Título: Atividade patina e crescimento deve ficar na casa de 3%
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Brasil, p. A4

O desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre ainda não mostra uma recuperação vigorosa. A produção industrial teve crescimento moderado em julho e os indicadores referentes a agosto não sugerem uma retomada mais forte da atividade econômica. Há quem avalie, inclusive, que a indústria mostrou uma ligeira queda no mês passado. Com isso, ganha força a expectativa de uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) na casa de 3% em 2006. E aparecem as primeiras previsões abaixo deste percentual.

Em julho, a produção industrial cresceu 0,6% na comparação com junho, na série livre de influências sazonais. Os indicadores referentes a agosto, não apontam para uma expansão superior a esta. A economista Débora Nogueira, da Rosenberg & Associados, estima que a produção industrial cresceu 0,2% em relação a julho, com ajuste sazonal. "Agosto não foi o mês da virada", resume ela, que prevê expansão do PIB de 2,9%.

Segundo cálculos da LCA Consultores, a produção de veículos cresceu 0,4% na comparação com julho, enquanto o consumo de energia elétrica aumentou 0,5%, a produção de aço bruto, de 1,2%, e a expedição de papelão ondulado, de 0,9%, sempre com ajuste sazonal. Em compensação, o fluxo pedagiado de veículos pesados ficou estável, o volume exportado de manufaturados caiu 0,4% e a extração de petróleo e gás recuou 1,2%.

O economista Bráulio Borges, da LCA, é um pouco mais otimista que Débora quanto ao comportamento da atividade no acumulado ano, mas acredita em estabilidade ou ligeira expansão da indústria em agosto. Para 2006, Borges aposta em crescimento do PIB de 3,4%.

Borges diz que, além da variação da produção industrial de agosto, também será fundamental acompanhar a composição do resultado. Borges passou a estimar o PIB industrial mensal, que difere do resultado da produção da indústria por terem ponderações diferentes. Em julho, a produção industrial cresceu 3,2% em relação ao mesmo mês de 2005, mas o PIB industrial cresceu 3,8%, nas contas da LCA. A questão, afirma Borges, é que a construção civil, que cresceu 7,5% em julho, tem um peso maior nas contas nacionais do que na pesquisa industrial mensal.

A MB Associados prevê recuo de 0,3% da produção industrial em agosto em relação a julho e de 2% na comparação com agosto de 2005. "Como o terceiro trimestre de 2005 já havia sido muito fraco, isto confirmaria o ritmo moderado de expansão da indústria, pois estaríamos crescendo pouco em cima de uma base já muito baixa", avalia a MB. "A se configurar esse resultado, o PIB industrial do terceiro trimestre teria que ser revisto para baixo e o PIB deste trimestre não alcançaria a expansão de 0,8% esperados em relação ao segundo trimestre, com ajuste sazonal", apontaram os economistas da MB no relatório quinzenal de conjuntura enviado aos clientes.

Para os economistas da MB, isso consolida "a perspectiva de que o PIB em 2006 deve ficar na casa dos 3%, e começa a ficar presente a possibilidade de um número menor". No segundo trimestre, a expansão foi de 0,5% em relação ao anterior.

A economista Giovanna Rocca, do Unibanco, ainda mantém sua estimativa de 3,2% para o crescimento neste ano, mas reconhece que o número pode ser um pouco mais baixo. Para ela, o resultado das vendas do varejo em julho, que mostrou queda de 0,4% em relação a agosto, na série livre de influências sazonais, foi preocupante, por indicar fraqueza da demanda doméstica. Um novo resultado ruim do comércio varejista poderá fazer com que ela revise para baixo sua projeção. Giovanna lembra que, neste ano, a atividade econômica depende do mercado interno, uma vez que o setor externo vai contribuir negativamente para o PIB, já que as importações crescem bem mais que as exportações.

Para Débora, o câmbio valorizado é o maior responsável pelo mau desempenho da economia deste ano, por afetar o dinamismo das exportações e levar à substituição de parte da produção nacional por produtos importados. O setor externo vai "roubar" algo como um ponto percentual do PIB em 2006.