Título: Em crise, PSDB decide rediscutir apoio a Chinaglia
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Política, p. A7

Ruy Baron/Valor - 3/11/2005 O deputado federal Gustavo Fruet (PR) poderá ser lançado candidato alternativo hoje, aprofundando divisão interna Para tentar conter a divisão do partido, a ala do PSDB que defende a eleição do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara convocou uma reunião da nova bancada do partido para levar o assunto a voto na próxima semana, provavelmente na terça-feira. Na semana passada, o atual líder tucano, Jutahy Júnior (BA) anunciou o apoio ao petista, com base em conversas telefônicas com a maioria dos deputados tucanos.

Não é a única reunião prevista para a semana que vem. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), avaliou que o apoio anunciado por Jutahy não representou o sentimento geral da legenda e também decidiu convocar reunião da Comissão Executiva Nacional para discutir o tema. Para Jutahy, será possível aprovar o apoio petista em uma votação aberta. "Tenho absoluta convicção de que o apoio a Chinaglia vai ser ratificado, porque é fruto de decisão da própria bancada", afirmou o líder. Segundo o baiano, 34 dos 63 deputados tucanos que tomarão posse em 1º de fevereiro manifestaram apoio ao petista.

A divisão do PSDB poderá se aprofundar hoje, caso os deputados que articulam uma candidatura alternativa às de Chinaglia e do atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lancem o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) como candidato, em reunião em Brasília. Na avaliação de um dos articuladores do grupo, Raul Jungmann (PPS-PE), de 15 a 20 tucanos deverão estar presentes.

Segundo um dos defensores da chamada "Terceira Via", o tucano João Almeida (BA), a eventual candidatura de Fruet poderá precipitar o processo de sucessão do atual presidente do partido, o senador Tasso Jereissati (CE), cujo mandato se encerra em setembro, além de reabrir a disputa pela liderança do partido na Câmara este ano.

Antes da atual crise, estava praticamente certo que o futuro líder será o deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP). O parlamentar é ligado ao governador paulista José Serra, da mesma forma que o atual líder. "O PSDB não pode ficar preso a interesses regionais, sob influência de lideranças políticas com viés coronelista", disse o baiano. Procurado por este jornal, Gustavo Fruet não foi localizado.

Principal dirigente a reagir contra o apoio a Chinaglia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu com a convocação da reunião uma vitória dentro do partido. Na semana passada, Fernando Henrique divulgou uma nota não apenas protestando contra a aliança, mas pedindo a reavaliação do assunto.

"O Fernando Henrique está mais preocupado com a falta de reunião para discutir o tema do que com o mérito da decisão. Comentou que uma divisão dentro da base governista virou uma divisão dentro do PSDB. Mas a reunião da próxima semana irá resolver esta falha", disse o deputado Arnaldo Madeira (SP), que apóia a eleição de Chinaglia. A ala envolvida no apoio ao petista afirma que a capacidade de Fernando Henrique de interferir é limitada. "Ele tem influência. Registramos a opinião dele, mas tomamos a nossa decisão", disse o deputado Eduardo Gomes (TO).

Fora do eixo São Paulo/Minas, a possibilidade de apoio a uma candidatura alternativa cresce. "Há uma disputa na própria base de apoio ao presidente Lula. Isso mostra que há uma disputa que vai além da proporcionalidade", comentou a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius. "Não existe apenas dois partidos grandes, capazes de dar dois anos de presidência a um partido, dois anos a outro. A decisão da semana passada foi prematura", disse a gaúcha. Yeda reclamou de não ter sido consultada, nem os demais governadores, tampouco FHC, presidente de honra do partido e que entrará na discussão do lançamento da terceira via. Ontem, a tucana passou a tarde em São Paulo, conversando com Fernando Henrique Cardoso e José Serra. A governadora gaúcha não foi a única a reclamar.

Em Brasília, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, se disse surpreendido com a decisão de Jutahy de apoiar a candidatura de Arlindo Chinaglia sem reunir a bancada. Cássio afirmou que nenhum dos três tucanos paraibanos eleitos para a Câmara pelo PSDB foi consultado por Jutahy. "Uma decisão dessa amplitude tem que ser tomada pela bancada, em conjunto", defendeu ele.

Cássio expressou sua preferência por Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O governador reeleito da Paraíba disse que ligou para seu colega de São Paulo, José Serra, para saber se de fato o apoio ao PT foi acertado com base em negociações conjuntas com a Assembléia Legislativa de São Paulo. "Ele me disse que não tinha nada com isso, que havia sido uma decisão do Jutahy". Cássio Cunha Lima aproveitou para brincar com Serra. "Se a negociação tiver ocorrido de fato, me inclua. A Paraíba é pequena, mas também tem Assembléia Legislativa", completou.