Título: Aldo acusa de Chinaglia de trocar apoios por 'prom
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Política, p. A6

Em seu discurso mais duro desde que iniciou a campanha pela reeleição, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), confrontou sua candidatura com a do petista Arlindo Chinaglia (SP), atacando a estratégia adotada pelo adversário. "A presidência da Câmara tem que compor uma agenda para o país e não ser eleita a partir de acordos regionais em torno de assembléias legislativas, por exemplo, de composições ou de promessas ministeriais", criticou, depois de participar da cerimônia de posse da nova diretoria do Sebrae.

Esta é a primeira vez que Aldo fala explicitamente que a candidatura petista está oferecendo vagas no governo para angariar apoio. Ele se referiu indiretamente também ao acordo fechado com os tucanos por Chinaglia, em troca do apoio do PT nas eleições das assembléias legislativas em São Paulo e na Bahia, além da garantia de vaga, na Mesa da Câmara, a um nome indicado pelo governador Aécio Neves (PSDB).

Apesar dos ataques incisivos, Aldo poupou o presidente Lula e disse não acreditar que ele vá "tomar partido numa eleição que sabe ser de um poder diferente". Ele acredita que Lula tem uma relação de respeito com a Casa e com os próprios candidatos. Sobre a suposta interferência do ministro da articulação política, Tarso Genro, no processo, Aldo foi lacônico. "É um direito do Tarso Genro, como dirigente do partido, tomar posição", afirmou. Nas hostes petistas, não há mais quem negue a interferência do governo na disputa. "O presidente Lula está convencido de que Arlindo Chinaglia é melhor para a Câmara do que Aldo Rebelo", disse ontem o deputado eleito do PT de São Paulo, Jilmar Tatto.

Aldo disse que a disputa contra Chinaglia não é pessoal nem partidária, mas de idéias e projetos: "Tenho amizade por Chinaglia. PT e PCdoB são aliados antigos. O que está em jogo é o que a Câmara representa para o Brasil neste momento complexo em que o país enfrentará desafios importantes".

Aldo disse não se preocupar com os apoios conseguidos por Chinaglia. Sugerindo que não abrirá mão da disputa, como pretendem os petistas, o presidente da Câmara declarou que o desfecho dessa batalha se dará no dia 1º de fevereiro. Reiterou que sua candidatura não provoca divisões nos partidos e que se mantém confiante nos votos já consolidados junto ao PSB, PCdoB, PFL, além do que tem no PMDB e no PSDB. "Não trabalho com a divisão dos partidos, trabalho com o votos dos parlamentares." Aldo afirmou que, diariamente, tem visto a intranqüilidade de seus adversários, que a todo momento questionam se a sua candidatura está mantida. "Tenho confiança na votação pelos contatos que tenho tido individualmente com todos parlamentares", informou.

Na Câmara, Chinaglia conquistou ontem mais um avanço político. Recebeu apoio formal do PL, do Prona e do PSC, que, juntos, poderão ter uma bancada de 45 deputados a partir de 1º de fevereiro. O apoio foi manifestado a Chinaglia por lideranças do partido, a partir da votação da qual participaram 33 parlamentares. Segundo o líder do PL, Luciano Castro (RR), 27 optaram pelo apoio a Chinaglia e apenas seis, a Aldo Rebelo.

Anunciada a decisão, o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), ex-apoiador de Aldo, manifestou adesão entusiasmada à candidatura petista. "Vou pedir voto a ele e trabalhar por ele porque sou partidário", afirmou Inocêncio. Antes do anúncio formal da decisão, Inocêncio confirmou que Chinaglia teria oferecido ao futuro bloco - a ser formado pelos três partidos - a vaga de quarto secretário da Mesa Diretora, responsável, entre outras coisas, pela administração dos imóveis da Casa. O líder do PL e o próprio Chinaglia negaram a existência do acordo. Mas ambos disseram que o cargo deverá caber aos três partidos, caso a formação do bloco se confirme.

O acordo pode, no futuro, não ter a validade desejada, uma vez que o PSB e o PCdoB, que apóiam Aldo, também planejam criar um bloco partidário com mais deputados que o bloco Prona-PL-PSC. Se isso acontecer, os socialistas e os comunistas terão precedência na indicação do quarto-secretário.

Ao agradecer o apoio recebido ontem, Chinaglia afirmou que a atual legislatura "foi difícil, trouxe dissabores" e que seu principal desafio é "ter uma Câmara respeitada pelo povo brasileiro". Citando escândalos que atingiram a Câmara, como o do "mensalão" e o das "sanguessugas", Chinaglia disse que houve renovação em vários partidos e todos os deputados eleitos têm legitimidade para o exercício de seus mandatos. Lembrando que o Congresso viveu sob críticas no período que antecedeu ao golpe de 64, o petista disse que a "desqualificação do Parlamento nunca é um serviço à democracia".

Chinaglia fez questão de lembrar que "poucos acreditavam" no apoio do PSDB à sua candidatura, por se tratar de um dos principais partidos de oposição ao governo Lula. Para ele, o apoio dos tucanos "ajuda a colocar o trem nos trilhos, ou seja, reafirmar o compromisso com a proporcionalidade e com a transparência".