Título: Setor têxtil fecha 2006 com déficit de US$ 60 milhões, o primeiro desde 2000
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Brasil, p. A4

A valorização de 35,8% do real em relação ao dólar nos últimos três anos reduziu o ritmo das exportações de produtos têxteis e de confecção no Brasil. A balança comercial do setor fechou o ano passado com um déficit de US$ 60,2 milhões, o primeiro desde 2000, quando o saldo negativo foi de US$ 384 milhões, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

As vendas para o exterior de janeiro a dezembro de 2006 totalizaram US$ 2,08 bilhões, o que representa uma queda de 5,45% em relação a 2005. As importações, por sua vez, cresceram 41,12%, no mesmo período, somando US$ 2,14 bilhões.

O diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel, explica que o resultado do ano passado foi influenciado basicamente pela apreciação do real em relação ao dólar, já que setores como o têxtil e o de confecção, intensivos em insumos nacionais, "sofreram tanto nas exportações como no mercado interno, pois tiveram de enfrentar a concorrência de países que mantiveram seus câmbios competitivos". Segundo Pimentel, o déficit da balança chegaria a US$ 302 milhões se as exportações de algodão fossem excluídas da pauta.

"O ano de 2006 não vai deixar saudades. O dólar perdeu valor no mundo inteiro, mas o Brasil foi a economia emergente que mais apreciou a moeda porque praticamos, ao longo deste período, os maiores juros do mundo", disse Pimentel. "Saímos de um superávit de US$ 684 milhões, em 2005, para um déficit no ano passado. Será que em um ano o setor desaprendeu a produzir? Claro que não. Foram fatores adversos na macroeconomia que trouxeram essa reversão brutal", afirmou.

Um dos segmentos mais afetados no setor têxtil e de confecção, segundo ele, foi o de vestuário, apesar das vendas de tecidos, vestuários e calçados terem crescido 1,95% no acumulado de janeiro a novembro de 2006, em relação ao mesmo período de 2005, segundo dados do IBGE. A produção de vestuário, no período, caiu mais de 5%. "A produção caiu, mas o consumo aumentou no varejo, o que mostra claramente que esta lacuna está sendo preenchida com produtos importados", disse Pimentel.

A Abit defende a elevação das tarifas de importação de produtos têxteis, enquanto prevalecerem condições desiguais de competição entre o Brasil e principais concorrentes mundiais, como Índia e China. "Ou o governo se convence que a indústria têxtil é estratégica para a geração de emprego e renda no país ou teremos novamente um ano (2007) que vai nos fazer sentir saudade de 2006."