Título: Investimento atinge nível mais elevado desde 1995
Autor: Durão, Vera
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2007, Brasil, p. A3

O investimento fixo no país cresceu em 2006, pelo terceiro ano consecutivo, entre 6% a 6,2%, na projeção de economistas de institutos de pesquisa, universidades, consultorias e bancos, o que indica que, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a taxa ficou entre 20,4% e 20,8%, nível mais elevado do indicador desde 1995. Em 2005, a taxa de investimento fechou em 19,9% do PIB. Para o país crescer de forma sustentada entre 4% a 5% ao ano ela tem de atingir no mínimo 24% do PIB.

Na projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), essa tendência deve se manter em 2007, com a formação bruta de capital fixo (fbcf) crescendo 7,4% e a taxa de investimento atingindo 21,4% do PIB, como adiantou Mérida Herasme Medina, economista do Grupo de Análise de Conjuntura (GAC). A fbcf é a equação que mede o investimento com base na produção e na importação de máquinas e equipamentos, na atividade da construção civil, menos exportação de bens de capital.

As vendas de máquinas e equipamentos para os setores de mineração, siderurgia e petróleo, os mais ativos no ano passado, é que estimularam o bom desempenho da fbcf, como informa pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), reforçada pela lista dos projetos financiados pelo BNDES no ano passado, que somaram desembolsos de R$ 27,2 bilhões para a indústria e R$ 9,4 bilhões para infra-estrutura.

A demanda desses segmentos foi forte. Só a indústria de mineração, liderada pela Vale do Rio Doce, comprou mais 30% de máquinas para mineração em 2006 e o setor petroquímico e de petróleo, mais 25%.

Os dados do IBGE para o PIB do terceiro trimestre de 2006, mostram que no acumulado do produto trimestral até setembro, a fbcf avançou 6% ante o mesmo período do ano passado, ante uma taxa de apenas 2,5% de expansão do PIB. Esse descompasso é explicado em parte pela apreciação cambial que influencia negativamente as exportações.

Newton de Mello, presidente da Abimaq, porém, reclama que apesar desses números favoráveis, a indústria brasileira de máquinas pode fechar 2006 no vermelho, com uma queda de 2% no seu faturamento médio. O resultado negativo leva Mello a questionar as projeções de expansão da fbcf em 2006. "Para mim, o investimento cresceu zero, pois até o consumo de máquinas caiu 1,5%", afirma.

Sílvio Salles, coordenador da área de indústria do IBGE, explica que o faturamento negativo das indústrias filiadas à Abimaq não informa uma tendência do setor de bens de capital como um todo, pois a entidade é uma parte relevante, mas não representa toda a produção de bens de capital, que inclui máquinas para o setor de energia, para computadores, para construção e indústria aeronáutica, entre outras.

Os números da produção industrial de bens de capital do IBGE até novembro revelam que tanto bens de capital, como os insumos para a construção civil, segmentos que formam a fbcf, tiveram crescimento acima do crescimento médio industrial, de 3,1% no período. A produção de bens de capital de janeiro a novembro expandiu-se 5,7% (só os bens de capital para indústria avançaram 5% até novembro) e a construção civil, 4,9%. As importações de bens de capital, em volume, cresceram 28,6%. "Esses números mostram que a taxa de investimento teve um bom desempenho no ano passado, apesar do ritmo lento de recuperação", diz Sales.

Em 2007, este comportamento será reforçado por uma nova onda de projetos dos setores de insumos básicos (siderurgia, mineração, papel e celulose e petroquímica) e infra-estrutura, que já foram aprovados no BNDES. O total desses projetos soma R$ 74 bilhões.

Os projetos de maior destaque aprovados no banco e que começam a ser tocados este ano são o do Gasene, gasoduto que vai interligar a rede de gasodutos do Sudeste com o Nordeste, que vai receber R$ 1,36 bilhões do BNDES, o da Transnordestina (R$ 900 milhões do banco), da Suzano Bahia Sul (R$ 2,4 bilhões de financiamento), Telemar (R$ 2,4 bilhões), Brasil Telecom (R$ 2,1 bilhões), Klabin (R$ 1,7 bilhões) e ALL (R$ 1,1 bilhão).

Caio Prates, economista do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, avalia que o aumento em curso do investimento é extremamente positivo para a economia, pois reduz o risco de pressões inflacionárias ao ampliar a oferta de produtos para atender uma demanda aquecida, garante a manutenção de uma trajetória de queda do juro básico e, conseqüentemente, fortalece o PIB. Para o economista, o comportamento positivo da fbcf, apesar do baixo crescimento do PIB no ano passado, é explicado em parte pela sensibilidade do investimento à trajetória da Selic. Prates projeta para 2007 um PIB de 3,8%, sem restrição de oferta.