Título: Transição à economia verde passa por PPPs
Autor: Barros , Bettina
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2012, Especial, p. A11

Passado o furacão de conferências e eventos paralelos da Rio+20, encerrada oficialmente na sexta-feira, representantes de diferentes espectros da indústria e da política parecem ter chegado a um denominador comum: somente através de parcerias público-privadas será possível avançar na agenda da sustentabilidade, cujos preceitos começaram a ser delineados aqui.

Empresas e delegações internacionais acompanhadas ao longo da última semana pelo Valor repetiram em diferentes fóruns que a iniciativa privada deve liderar a transição para um novo modelo de economia, mas não andar sozinha nesse novo caminho. Sem governos dispostos, os investimentos serão tímidos e cairão em um vazio.

"É preciso políticos fortes, com visão de longo prazo e decisões que independam de mudanças de governo", afirmou Roland Busch, presidente global da divisão Cidades & Infraestrutura da Siemens a uma plateia de prefeitos e representantes das Nações Unidas reunidos para discutir o futuro das manchas urbanas. Muito aplaudido, com essa frase o executivo alemão parecia fazer ressoar um sentimento contido do setor privado.

O raciocínio básico para o avanço da agenda verde foi resumido dias depois pela primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt: "É minha responsabilidade criar políticas públicas que levam à sustentabilidade. E é responsabilidade do setor privado pôr o dinheiro para transformar a sustentabilidade em realidade".

Os dias de Rio+20 se sucederam com anúncios pontuais de alianças e investimentos, sugerindo que alguma mudança de mentalidade pode estar começando a tomar forma. A mais marcante veio do Reino Unido, com a exigência para que as empresas listadas na bolsa de Londres relatem anualmente as suas emissões de CO2, na primeira iniciativa do gênero no mundo.

Representado pelo vice-primeiro-ministro Nicholas Cregg, o governo britânico anunciou ainda a liberação de 150 milhões de libras para um programa de financiamento de pequenos agricultores da África. Um compromisso firmado por 50 países destinará US$ 50 bilhões em energia sustentável para o mundo até 2030 e um acordo entre oito bancos de investimento mundiais liberará US$ 175 bilhões em programas de transporte sustentável, entre outras tantas promessas de ajuda na Rio+20.

Paralelamente, parcerias costuradas havia muitos meses iam sendo apresentadas ao público. Em uma ação liderada pelo Banco Mundial, 86 empresas privadas e 57 países manifestaram a necessidade de dar valor a ativos naturais, conceito ainda hoje amplamente ignorado. A adesão à chamada "Declaração de Capital Natural" foi uma defesa à inclusão de critérios como água, ar, florestas e ecossistemas nos modelos de negócios e nos cálculos de geração de riqueza. Ninguém tem ainda a receita de como fazer isso, mas a Rio+20 foi um ponto de partida para novos encontros e "quebração" de cabeça, dizem os signatários da ideia.

A longa distância desse futuro sustentável, no entanto, podia ser vista nas apresentações dos executivos paralelas às discussões oficiais. Algumas palestras de diretores de sustentabilidade eram tão voltadas à auto-promoção que a sensação de "greenwashing" era quase inevitável.

Houve até quem explicasse que as leis ambiental e trabalhista do país eram cumprida à risca, com um ou outro comprometimento extra. "Cumprir a lei é piso, não teto", diz o advogado Werner Grau Neto, da Pinheiro Neto Advogados. "Sustentabilidade é ir além. É postura ética, melhores práticas. É sair do legal e ser voluntário".

Para ele, a dificuldade da adoção de uma economia verde é negar o capitalismo - o consumo reduzido. O vice-presidente de sustentabilidade do grupo Procter & Gamble, Peter White, discorda que as empresas vão perder com a redução do consumo. "Vamos, ao contrário, ganhar porque haverá redução de custos com embalagens, por exemplo, e desenvolvimento de tecnologias para tornar os produtos mais sustentáveis", afirma.

As empresas também contam com a mudança de hábitos do consumidor, principalmente nas regiões emergentes, para ajudá-las na causa ambiental. Como boa parte da população dessas regiões estreia agora no consumo de produtos que antes não estavam em seu orçamento, os novos costumes se voltarão para embalagens mais simples ou eletrodomésticos menos sofisticados que os usados no Primeiro Mundo. "Hábitos de consumo que começam agora e podem seguir um rumo mais consciente", diz o presidente mundial da Unilever, Paul Polman.