Título: De "apadrinhada" a líder reconhecida
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2010, Política, p. 2

A construção da imagem de Dilma enfrentou percalços na militância, nos partidos aliados e nas condições de saúde da candidata. Em todas as etapas, o presidente Lula foi seu fiador

Em 2008, o então deputado Jader Barbalho avisava aos peemedebistas: Se a oposição não se mexer, Dilma será presidente. Cada voto que Lula transferir para ela, ninguém tira mais. E assim foi. A presidente eleita Dilma Rousseff chega ao topo com ares de quem venceu uma corrida de obstáculos, a maioria com o auxílio do presidente. Da conquista dos militantes petistas à abertura das urnas, foram dois longos anos de construção da vitória. Nosso principal trabalho nessa campanha foi superar o descrédito em torno do potencial da candidata. Ninguém acreditava, só nós, diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

O primeiro quebra-molas foi ganhar a confiança do próprio partido que, no princípio, olhou meio desconfiado para aquela senhora de óculos, voz rouca, fala firme e pausada. Aí foi onde contou não só a influência do padrinho, Lula, como da cúpula que detém prestígio entre os militantes, caso de José Dirceu. Não foram poucas as viagens que o ex-ministro fez contactando líderes petistas em favor da candidatura de Dilma. A percepção de que ela estava aprovada veio em fevereiro de 2009, onde Dilma terminou aclamada com um sonoro olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma.

Enquanto Lula colocava Dilma no aquecimento, o Ibope anunciava que ninguém tiraria a vitória de Serra. Lula, firme, pegou a então ministra da Casa Civil pela mão e apresentou-a em todas as solenidades como mentora de seu governo. Em abril de 2009, entretanto, veio a doença da ministra e, com ela, o receio de que estivesse fora. Foi o maior obstáculo, na visão dos petistas. Lula não desistiu. Tão logo os médicos liberaram, ela voltou a aparecer, de peruca. Em agosto do ano passado, foi ela a estrela da apresentação dos projetos sobre o novo modelo de exploração do pré-sal e não o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB. Àquela altura, ainda havia descrédito no PMDB. Após muita costura, o partido fechou com Dilma e emplacou seu presidente, Michel Temer, como vice. O PT, sabendo que não poderia dispensar o detentor do maior tempo de TV na campanha, fechou o acordo.

Virada Feito isso, faltava vencer o governador de São Paulo. Os tucanos diziam que, quando chegasse abril e Dilma deixasse o ministério a candidatura governista murcharia. Não foi o que ocorreu. Dilma circulou pela Europa e pelos EUA. Em maio, já surgia nas pesquisas três pontos atrás de Serra. Empate técnico. A ultrapassagem veio logo que ela começou a campanha, em julho, exibindo Lula em quase todos os programas.

Faltavam os debates, onde todos diziam que ela seria engolida. Esse foi o obstáculo em que ela mostrou a sua capacidade, sem a presença de Lula, diz Dutra. O crescimento rápido fez aumentar a autoconfiança do PT. O presidente Lula, quando está muito bem, é quando comete mais erros, e ele errou no fim do primeiro turno, diz um amigo do atual chefe da nação. A soberba, aliada ao caso Erenice Guerra, além da questão religiosa, levaram eleitores do PT aos braços de Marina Silva e Serra ao segundo turno. Passado o susto, o PT corrigiu rumos. Dilma ficou mais próxima das pessoas, ganhou a confiança de todos e a Presidência.