Título: Para Aécio, Lula é vítima da generosidade
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou os amigos para trabalhar perto dele e agora está pagando o preço da sua "generosidade". A avaliação é do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que ontem classificou Lula como "vítima" no episódio do dossiê contra os tucanos. "O presidente é vitima hoje do pouco cuidado que teve na montagem do seu governo, em cargos de confiança", disse Aécio.

Ao contrário de outros tucanos, Aécio Neves procurou poupar o presidente, com quem mantém boas relações pessoais. Preferiu direcionar os ataques ao Partido dos Trabalhadores.

O governador relatou ontem que Lula já lhe confidenciou algumas vezes suas pretensões de fazer uma grande reforma e enxugar a máquina administrativa. "Mas acho que a força da máquina partidária dentro do governo, e sobretudo do PT, foi tamanha que ele não conseguiu extirpar algumas figuras do governo que não fazem bem ao governo, não fazem bem ao país", concluiu.

Citando um ensinamento do avô falecido Tancredo Neves, o governador mineiro disse que existem dois tipos de amigos, os da cerveja e os do trabalho. "Você deve tomar um cuidado enorme para não colocar o amigo da cerveja para trabalhar perto de você, porque não dá certo no final." A frase dita pelo avô lhe acompanhou a vida toda, disse ele.

Para o mineiro, o presidente está pagando um preço altíssimo pela "excessiva generosidade para com os companheiros". Para acomodar os petistas derrotados em 2002, privilegiou não a lógica da qualidade dos gestores e sim a lógica da filiação partidária. Acabou inchando a máquina federal com quase 40 ministérios.

"Se alguém quiser fazer uma grande maldade com o presidente da República hoje seria perguntar a ele, de supetão, quais são os seus ministérios e o nome dos seus ministros", provocou. "Eu acho que ele terá dificuldades para lembrar." Segundo Aécio, a solidariedade pessoal e os gestos de amizade são louváveis no cidadão. Mas ressaltou que não foi correto utilizar o governo para isso.

O governador tucano cobrou uma apuração rápida sobre a origem do dinheiro que seria pago pelo dossiê contra José Serra (PSDB), mas disse que isso interessa a Lula "mais do que qualquer outro brasileiro". Segundo ele, é necessário que o episódio seja esclarecido antes da eleição. "É importante que todos votemos sabendo com clareza até onde vai esse envolvimento, quem são os responsáveis."

Para Aécio, é fundamental compreeender o que se passa na cabeça das pessoas envolvidas com o dossiê, que noção elas têm da democracia e qual visão republicana têm. "Acham que por estar no governo podem tudo e são absolutamente inimputáveis", condenou o governador. Aécio Neves preferiu não fazer "julgamento de valor" sobre as informações do dossiê.

Contando que o escândalo contribuirá para levar a disputa presidencial ao segundo turno, a coordenação da campanha do candidato Geraldo Alckmin vai reforçar os atos em Estados com tendência de votos, como Minas Gerais. Estão previstas mais três visitas acompanhadas do governador Aécio até o fim da campanha; em Barbacena, Belo Horizonte e Ouro Preto.