Título: Ataque tucano tenta romper blindagem de presidente
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Política, p. A10

O comando da campanha do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República deflagrou ontem ofensiva na tentativa de neutralizar a blindagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do dossiê contra tucanos, que estava sendo negociado por pessoas ligadas ao PT e ao Palácio do Planalto. A coordenação da coligação PSDB-PFL concluiu que era necessário endurecer o contraponto ao discurso do governo, que acusa a oposição de trama eleitoral contra a reeleição de Lula.

Em entrevista coletiva convocada pelo comitê de Brasília - a primeira desde o início da campanha -, o coordenador-geral da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), acusou o presidente de ser o maior interessado na divulgação do material que supostamente comprometeria o candidato ao governo de São Paulo, José Serra, com o esquema de vendas superfaturadas de ambulâncias para prefeituras (a máfia das sanguessugas).

"Esse dossiê é fajuto, completamente falso. É uma fraude com finalidade eleitoral para evitar que a eleição de presidente fosse para o segundo turno e que Serra fosse eleito governador no primeiro turno. Por isso, estão envolvidas pessoas do comitê do candidato do PT a governador de São Paulo (Aloizio Mercadante), da Presidência da República e do comitê do Lula. É uma operação de comitês. E o presidente vai perguntar a quem interessava? É claro que interessava a eles. A nós é que não interessava", disse Guerra. Para ele, Lula anda com "péssimas companhias" e o país está "ameaçado por assaltantes".

O coordenador tucano saiu a campo depois que o comando da campanha avaliou que Alckmin - com seu estilo que ele mesmo chama de "zen" - não vinha mostrando, em suas declarações, a contundência que a gravidade do episódio merecia. Guerra foi especialmente duro com Lula, mas também criticou o novo coordenador da campanha do presidente, Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais. "Se ele for bom na coordenação da campanha como foi na política internacional, imaginem como será", disse.

O senador disse ter "certeza" da realização do segundo turno nas eleições presidenciais e afirmou que Lula não teria condições de enfrentar o contraditório depois de 1º de outubro. "Lula sabe que não tem condições de disputar o segundo turno. Ou vence (no primeiro turno) com essa conversa, que ninguém suporta mais, de que não sabia de nada, ou está morto no segundo turno. Lula não tem consistência intelectual e política para sustentar uma discussão sobre o Brasil", afirmou.

Guerra contestou a opinião, manifestada por Garcia, segundo a qual o presidente não foi atingido pelos escândalos. "Muita coisa pegou no presidente. Primeiro, ele perdeu a confiança de muita gente séria. Segundo, jogou a esquerda para o submundo. E desestruturou e desorganizou o governo dele", disse.

O tucano ironizou a afirmação do presidente de não saber de nada, lembrando a complexidade da operação e a proximidade de Lula com os envolvidos. "Fazer de conta que não sabia de nada? Por que o presidente, amigo de cozinha desse pessoal todo, dá comida e sala ao lado, não chama esse pessoal e pergunta de onde veio o dinheiro?"

Para Guerra, Lula, que já teve apoios relevantes de políticos e representantes de outros setores da sociedade, "hoje está isolado no grupo que promove assaltos à democracia brasileira". Ele defendeu que o episódio seja mais explorado no programa eleitoral gratuito no rádio e na TV de Alckmin. "É impossível a sociedade inteira tratar do assunto e não mostrarmos no nosso programa", afirmou.

No Senado, o coordenador do PFL da campanha de Alckmin, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), se disse "chocado" com o fato de Lula ter chamado de "meninos" os petistas envolvidos na negociação do dossiê. "Se ele os considera meninos, deveria mandar todos para a Febem", disse.