Título: PF promete revelar origem do dinheiro
Autor: Costa, Raymundo e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Política, p. A11

A Polícia Federal deve divulgar hoje o resultado das investigações sobre a origem do dinheiro que seria usado por petistas para pagar a publicação de um dossiê contra José Serra, o candidato do PSDB ao governo de São Paulo. Ontem, um ministro próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que "faltava muito pouco" para a PF identificar o "caminho do dinheiro" e, assim, chegar à fonte dos recursos.

A quantia - R$ 1,7 milhão - foi apreendida pela PF, na última sexta-feira, durante a prisão do petista Valdebran Padilha e do advogado Gedimar Passos. O advogado atuava na campanha de Lula como assessor de Jorge Lorenzetti, que, por sua vez, é amigo do presidente e vinha chefiando o núcleo de informação e inteligência do comitê de reeleição.

A polícia já identificou os três bancos de onde foram sacados os recursos - Bradesco, BankBoston e Safra - e as agências. Os policiais descobriram que foram feitos saques na agência do BankBoston, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, e também na agência de Barra Funda, do Bradesco, em São Paulo. Uma parte do dinheiro apreendido - cerca de R$ 550 mil - foi em dólares americanos. Como os maços de dinheiro estavam envoltos por cintas com a denominação do BEP (a casa da moeda americana), os policiais acreditam que o dinheiro veio do exterior, tendo entrado ilegalmente no país.

Fontes do governo informaram que a lista de envolvidos no escândalo deve crescer porque já se sabe que os nomes dos sacadores dos recursos são diferentes dos nomes dos envolvidos no esquema revelados até o momento. Embora o presidente Lula tenha determinado pressa na apuração do caso, há o receio em Brasília de que a revelação da origem do dinheiro intensifique a crise, causando prejuízos à campanha da reeleição. Mas ontem ministros próximos do presidente retomaram a difusão da versão - estratégia que tinham abandonado - segundo a qual os petistas teriam sido vítimas de uma armadilha preparada pelo PSDB.

O governo agiu rápido também quando foi levantada a suspeita segundo a qual a origem dos R$ 1,7 milhão seria de um repasse feito pelo Ministério do Trabalho à Organização Não-Governamental (ONG) Unitrabalho, com a qual mantém um convênio para acompanhamento e avaliação de programas de qualificação profissional. A suspeita surgiu porque num dos depoimentos tomados pela Polícia Federal foi citado "André". A ONG já foi chefiada por Jorge Lorenzetti, que encomendou o suposto dossiê, junto com Oswaldo Bargas, que ocupou a Secretaria de Relações do Trabalho tendo, à época, André de Oliveira Bucar como coordenador-executivo do Fórum Nacional do Trabalho. A ligação foi imediata.

De São Paulo, onde se encontrava na quarta-feira, o ministro Luiz Marinho imediatamente acionou o secretário-executivo do ministério para que ele conversasse com Bucar e transmitisse a ele sua impressão. Bucar negou qualquer tipo de envolvimento com a história. Disse que tinha como comprovar sua movimentação entre os dias 5 e 9 de setembro, data errada com a qual trabalhava o ministério para o dia que André teria passado em R$ 1,7 milhão em um hotel de São Paulo. Ele estava em Tocantins, num evento familiar. Depois foi confrontado com a data correta - 14 de setembro. Bucar também explicou tudo o que fez nos dias 14 e 15, inclusive as atividades familiares como levar um filho a um jogo de basquete.

Marinho aceitou as explicações, mas ontem, antes de conceder uma entrevista coletiva, chamou o funcionário a seu gabinete, verificou sua agenda nas datas referidas e se convenceu de que seu nome surgiu na confusão no momento em que jornalistas pesquisaram o nome de Oswaldo Bargas na internet. Marinho manteve Lula informado permanentemente. Além disso, ele também conseguiu que a ONG Unitrabalho abrisse seu extrato bancário para comprovar que a entidade continua com a maior parte do dinheiro que recebeu, este mês, do ministério.