Título: China atrai críticas por "empréstimos políticos"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Internacional, p. A12

A China saiu ontem em defesa de sua política de empréstimos e doações para países africanos em conflito, depois que suas práticas atraíram críticas de autoridades mundiais. O país asiático afirma que esses fundos ajudam a reduzir a pobreza.

Os ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G-7 (EUA, Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Canadá) disseram em um comunicado divulgado durante seu encontro em Cingapura que novos países a doar e emprestar têm de levar em conta "as questões de sustentabilidade de débito vindas de suas práticas creditícias". O porta-voz da Chancelaria chinesa, Qin Gang, disse que a China está ajudando a desenvolver a África com uma combinação de perdão de dívidas, ajuda e empréstimos comerciais.

"É compreensível que os países de baixa renda procurem créditos para suas necessidades de desenvolvimento. O dilema é saber o quanto esses empréstimos encorajam o desenvolvimento desses países de baixa renda e reduzem a pobreza", disse Qin.

O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, que está em viagem à China, disse durante o encontro em Cingapura no início da semana que uma ação urgente é necessária para parar uma nova onda de empréstimos "irresponsáveis" para os países em desenvolvimento, embora ele não tenha mencionado especificamente a China.

"Temos tido notícia de que credores têm dado grandes empréstimos, sob condições desconhecidas, a países que recentemente receberam perdão de suas dívidas", disse Paulson ao comitê de desenvolvimento do Banco Mundial e do FMI. "Precisamos de incentivos efetivos ou penalidades para deter empréstimos e dívidas irresponsáveis", disse Paulson. "Essa é uma tarefa urgente que requer toda a nossa atenção."

Nos últimos anos, a China vem se mostrando ávida por recursos naturais, mercados e apoio diplomático dos países africanos. Em contrapartida, vem concedendo empréstimos e assistência para o desenvolvimento desses países.

Alguns críticos dizem que a ajuda da China à África é demasiadamente atrelada a seus próprios interesses, deixando de lado questões importantes como os abusos contra os direitos humanos.

Mas o porta-voz Qin diz que a China tem beneficiado as pessoas dos países pobres. "Os empréstimos que a China vem concedendo a esses países em desenvolvimento são principalmente voltados para desenvolvimento de infra-estrutura, o que traz benefícios para suas populações" , disse.

Pequim já perdoou cerca de US$ 3,9 bilhões de dívidas de 31 países africanos. Em janeiro de 2005, a China ofereceu a Angola, país rico em petróleo, US$ 2 bilhões para serem aplicados em infra-estrutura. Em março de 2006, um acordo entre os dois países acrescentou US$ 1 bilhão ao primeiro empréstimo. O acordo permitiu que Luanda deixasse de lado a necessidade de tratar com o Fundo Monetário Internacional, que há tempos critica as finanças angolanas, chamando-as de excessivamente opacas.