Título: Saldo em conta corrente deve baixar e investimento no exterior subir, diz BC
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2006, Finanças, p. C2

O Banco Central trabalha com a possibilidade de começar em 2007 a virada nas contas externas, segundo a projeção oficial do balanço de pagamentos. O superávit em conta corrente irá perder força, caminhando para o equilíbrio, e as amortizações da dívida externa caem expressivamente. Assumem maior importância despesas que até há pouco tempo estavam bastante reprimidas ou eram praticamente inexistentes, como as importações e os investimentos diretos de brasileiros no exterior.

Se as projeções do BC se confirmarem, o próximo ano marcará o fim de uma era de grandes superávits na conta corrente. A projeção é que o saldo de 2006, que soma US$ 8,255 bilhões até agosto e é projetado em US$ 11,9 bilhões para o ano, caia para apenas US$ 2,5 bilhões em 2007. O número, bem mais modesto do que os observados entre 2003 e 2006, representa maior equilíbrio nas contas correntes. Na visão do BC, nos próximos anos o país deverá alternar pequenos superávits e déficits.

Assim, o balanço de pagamento entra em uma terceira fase em cerca de uma década. Do Plano Real, em junho de 1994, até a adoção do regime de câmbio flutuante, em janeiro de 1999, o país teve grandes déficits em conta corrente e aumentou sua dívida externa. Com a flutuação da moeda, começou um ajuste, que se completou em 2003, quando o país passou a registrar superávits e a pagar dívida externa. Agora, caminha para o equilíbrio e, após a acentuada redução da dívida externa, começa a ter recursos abundantes para novas despesas no balanço de pagamento, como os investimentos diretos de brasileiros no exterior.

A diminuição do saldo em conta corrente será provocada, na visão do BC, pela queda do saldo comercial. Neste ano, até agosto, o superávit comercial soma US$ 29,684 bilhões, e a projeção é que chegue a US$ 41 bilhões até o fim do ano. Em 2007, o saldo cairia a US$ 30 bilhões.

O menor saldo comercial será produzido, de um lado, pelo menor crescimento das exportações, que passaria de 12% para 6% entre esse ano e o próximo, fechando em US$ 140 bilhões em 2007. As importações, por outro lado, chegariam a US$ 110 bilhões, alta de 20,6%, semelhante ao avanço de 20,7% projetado para 2006.

"As exportações estão saindo de um patamar muito baixo e isso é bom, porque estão sendo puxados por itens como máquinas e equipamentos, ligados ao investimento", disse o chefe do Departamento econômico do BC, Altamir Lopes.

Outro destaque nas projeções do BC para a conta corrente é a queda nos pagamentos líquidos de juros da dívida externa. A despesa líquida deverá cair de US$ 10,1 bilhões para US$ 8 bilhões entre 2006 e 2007. Essa redução se deve mais à queda nos pagamentos brutos de juros ao exterior, que passam de US$ 15,4 bilhões para US$ 13,5 bilhões, do que ao aumento das receitas de juros - originadas sobretudo da aplicação das reservas -, que oscilam de US$ 5,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões.

O balanço de pagamento também sofrerá mudanças importantes nas chamadas contas de capital e financeira. O principal fato é a forte queda, de US$ 36,4 bilhões para US$ 22 bilhões, nas amortizações da dívida externa pública e privada. Esse é o resultado mais palpável da redução de endividamento externo. No caso das empresas privadas, a tendência começou a ser notada com a flutuação do câmbio, em 1999, mas no governo só chegou após 2003.

Embora a tendência de redução no endividamento já estivesse em pleno curso em 2006, ela não se traduziu nas estatísticas deste ano. Como o governo antecipou pagamentos previstos para os próximos anos, as amortizações devem até subir 10,8% em relação aos US$ 32,826 bilhões pagos em 2005.

A amortização de dívidas ocorreu sobretudo com os dólares do superávit em conta corrente e dos investimentos diretos feitos no Brasil. De 2003 a agosto de 2006, esses dois fluxos de divisas somaram US$ 100,860 bilhões.

Após a forte redução da dívida externa, a nova tendência que se delineia é o aumento dos investimentos brasileiros no exterior. A projeção do BC é que o volume chegue a US$ 14 bilhões em 2007, crescimento de 40% em relação aos US$ 10 bilhões esperados para este ano. Se confirmada, os investimentos brasileiros no exterior começam a se aproximar dos valores dos investimentos estrangeiros no país, projetados em US$ 18 bilhões.

É notável a expansão nos últimos anos. Entre 1997 e 2003, os valores oscilaram entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões. Em 2004, saltaram para US$ 9,807 bilhões, em grande parte devido a uma operação de troca de ações entre a AmBev e a Interbrew, de US$ 5 bilhões. Em 2005, voltou para o patamar de US$ 2,517 bilhões, mas em 2006 cresceu de novo. De janeiro a agosto, chegam a US$ 6,441 bilhões. "Esses números refletem o processo de internacionalização das empresas brasileiras", afirma Lopes.

As receitas brasileiras com juros e dividendos ainda são modestas (projetadas em US$ 1,2 bilhão em 2007) se comparadas com as despesas (US$ 15,7 bilhões) porque o estoque de investimentos brasileiro no exterior ainda é relativamente pequeno.