Título: China exige flexibilidade para a transição à economia verde
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2012, Especial, p. A10

Metas para a "economia verde" sim, mas não obrigatórias, e com flexibilidade para que cada país siga seu próprio caminho, em seu próprio ritmo. Às vésperas da chegada dos chefes de Estado para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, essa é uma das demandas prioritárias da China, segundo o coordenador dos negociadores chineses, o vice-presidente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento do país, Du Ying. A posição da China opõe-se à de países desenvolvidos, que querem metas globais, e é um exemplo das dificuldades para um texto de consenso entre os 193 países das Nações Unidas nesse tema.

"É preciso buscar um equilíbrio", afirmou Du Ying, ao argumentar que os compromissos em adotar tecnologias menos agressivas ao meio ambiente e às reservas de recursos naturais têm de conciliar a necessidade de garantir o crescimento econômico e o combate à pobreza.

"Temos de cuidar também do direito à sobrevivência e ao desenvolvimento", insiste, ao comentar a demanda por metas de desenvolvimento sustentável, um dos pontos de impasse na negociação que avançaria pela noite de ontem.

Os países em desenvolvimento, reunidos no grupo chamado de G-77 no jargão diplomático, acusam os países desenvolvidos de exigir novos compromissos sem ter cumprido aqueles assumidos no passado, como a meta de dedicar 0,7% do PIB à assistência internacional. "Temos um ditado que diz: todas palavras que disse serão contadas; por isso, vamos fazer o que dissermos", ironizou Du Ying, citando esforços da China para reduzir a agressão ao meio ambiente e aos recursos naturais. "Tenho a esperança de que os países ricos realizem as palavras que disseram."

Para o dirigente chinês, não é "acurada" a noção de que a China já se equivale a países desenvolvidos, por ter se tornado rapidamente a segunda maior economia do mundo. "O Produto Interno Bruto per capita da China é de apenas 53% da média mundial e 122 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, segundo os limites tradicionalmente aceitos", argumentou. "A China está ainda no processo de aceleração da industrialização, e estamos lidando com problemas concentrados, enfrentados há três centenas de anos pelos países desenvolvidos", acrescentou. "Temos grandes desafios em termos de proteção ambiental e de inovação".

"Vamos seguir um caminho de crescimento econômico verde; mas precisamos permitir aos diferentes países que persigam seu próprio caminho de acordo com suas próprias condições nacionais", resume o coordenador da delegação chinesa.

Os argumentos de Du Ying são similares aos de outros países em desenvolvimento e mostram por que tem sido impossível encontrar um consenso sobres os compromissos a serem assumidos pelos chefes de Estado que se reúnem a partir de amanhã no Rio de Janeiro. O impasse levou o governo brasileiro a propor um documento final para a reunião que, na prática, adia para 2014 as principais definições.

Para a pesquisadora da Academia Chinesa de Ciências Sociais Chen Ying, que faz parte da comitiva chinesa como observadora das negociações, o problema das negociações na Rio+20 é a pressão dos países ricos sobre as nações em desenvolvimento para adotarem padrões de produção "verdes", sem que se garanta a ajuda internacional para obter os recursos financeiros e tecnológicos necessários.

"A China tem feito grande esforço no curto prazo para mudar de uma economia de baixa eficiência em energia, cimento, indústrias, e tem perdido empregos com isso", argumentou a pesquisadora. "Temos de fazer a transição, não só pela pressão internacional, mas pelos problemas domésticos, como a poluição; mas passo a passo".