Título: Perfis opostos disputam 2º lugar
Autor: Magalhães, Heloisa e Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2006, Política, p. A8

Ex-juíza criminal, Denise Frossard aposta no discurso sobre a segurança pública para chegar ao 2º turno Ex-juíza com fama de durona - que tem no currículo a condenação de 14 destacados membros da cúpula do jogo do bicho do Rio de Janeiro a seis anos de prisão, em 1993 - a deputada federal (no primeiro mandato) Denise Frossard (PPS) tem um estilo personalista e um discurso centrado na política de segurança, muito ao agrado da classe média carioca. Seu padrinho político é justamente o prefeito da capital, Cesar Maia (PFL).

A seu lado está um engenheiro, político e religioso de fala mansa e aparência de imigrante europeu. Marcello Bezerra Crivella, que em 9 de outubro completa 49 anos, emergiu da pregação religiosa na Igreja Universal do Reino de Deus, da qual é bispo licenciado, para se eleger senador em 2002 com a impressionante marca de 3,5 milhões de votos. Apesar da origem conservadora, declara-se um "democrata social" - para se diferenciar da social democracia tucana - e "progressista", prometendo aprofundar e aperfeiçoar as políticas estaduais de transferência de renda para as camadas mais pobres da população.

Se houver segundo turno, Frossard ou Crivella irão disputar com o senador Sérgio Cabral (PMDB), isso caso a tendência das últimas pesquisas se confirmem e o peemedebista não liqüide a eleição em 1º de outubro. A juíza vem em ascensão e ultrapassou o senador-bispo na semana passada, segundo o Datafolha. Para o Ibope, os dois estão empatados, com 17% das intenções de voto. Crivella não esconde que, caso não vá para o segundo turno, irá apoiá-la.

Para o cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), o discurso da segurança não será suficiente para que Denise Frossard supere Cabral em um eventual segundo turno. "O discurso da segurança não sustenta o segundo turno, mas a coisa da personalidade, da mulher, da juíza, pode pegar".

Com 56 anos, a candidata é mineira de Carangola. Mas cedo envolveu-se na vida carioca. Estudou Direito na PUC-Rio. Advogou de 1977 até 1984, quando transferiu-se para o interior do Estado como juíza, em Porciúncula. Notabilizou-se como juíza da 10ª Vara Criminal da Capital. Em 1998, poderia ser promovida a desembargadora, mas optou pela política. Tentou o Senado, recebeu 635 mil votos, mas perdeu para Saturnino Braga, hoje no PT. Em 2002, candidatou-se a deputada. Foi eleita com 385 mil votos.

Carioca, da zona sul, Crivella passou a primeira infância feliz, entre as palmeiras do Jardim Botânico e a areia do Leblon, dois dos mais aprazíveis bairros da capital do Rio de Janeiro. Aos sete anos, recusou ser batizado na Igreja Católica, até então a denominação religiosa da família, definindo a opção pelo ramo evangélico do cristianismo, inicialmente na Igreja Metodista, "encantado pelas histórias da Bíblia". Mais tarde, quando seu tio, o polêmico Edir Macedo, fundou a Igreja Universal do Reino de Deus, iniciou sua vida pastoral, paralelamente à carreira militar - ficou sete anos no Exército e chegou a tenente - e ao início da carreira como cantor evangélico (tem dez discos gravados).

No início dos anos 90, recebeu do bispo Macedo a incumbência de implantar a Igreja Universal na África subsaariana. "Cheguei com mulher e três filhos. Deixei mais de 500 igrejas implantadas", conta, manifestando o desejo de retornar algum dia ao trabalho no continente africano, onde passou quase dez anos. De volta ao Brasil, Crivella engajou-se em outro projeto da Universal, administrando em Irecê, Bahia, antiga capital nordestina do feijão, a fazenda Nova Canaã, definida como "o primeiro kibutz brasileiro".

Visto por analistas como um político com teto eleitoral determinando, por sua vinculação religiosa, Crivella não chega a ser veemente na contestação e reclama do preconceito contra as denominações evangélicas e, mais especificamente, contra a Igreja Universal. Para ele, seu teto está mais limitado pelo pouco tempo de TV (apenas 30 segundos) e pelo estreito leque de alianças. Mas confia no apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para voltar a subir na reta final. E dá a receita de evangélico para o Brasil crescer mais: "Quem são os evangélicos? São os que estudam e trabalham a vida inteira. O que consomem? Basicamente, roupa, comida, carro e apartamento. Têm horror de pagar juros e têm poupança. Pagam juros na compra da casa própria porque sabem que estão saindo do aluguel. Pagar juros para evangélico é pecado. Se todos os brasileiros fossem assim nós não precisaríamos ter política para atrair capital estrangeiro, porque teríamos poupança interna. Isso é estratégico. Acho que os evangélicos têm muito a contribuir". (CS e HM)