Título: Indústria tem dúvidas sobre o projeto "PC Conectado"
Autor: Taís Fuoco
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Empresas, p. B4

Ao mesmo tempo em que vislumbra a possibilidade de, no mínimo, dobrar seu patamar de vendas anuais de microcomputadores, a indústria de informática ainda vê com um misto de apreensão e dúvida o projeto do "PC Conectado" com que o governo quer colocar no varejo, em 2005, computadores a preços populares e com conexão à internet. O setor vende em média 3 milhões de microcomputadores por ano, mas, destes, cerca de 2 milhões são vendidos na informalidade, o chamado "mercado cinza". O governo gostaria que fossem vendidos 1 milhão de computadores do projeto em seu primeiro ano de operação o que, de imediato, dobraria o volume oficial de vendas do setor. As dúvidas, no entanto, recaem sobre a forma como a indústria vai colocar no mercado um PC com suporte técnico e conexão à web em 24 parcelas de R$ 50 - patamar estipulado pelo governo. "As empresas vêem o projeto com um misto de otimismo e cautela", afirma Ruy Mendes, presidente do Instituto Brasil para Convergência Digital (IBCD). Segundo ele, além de poder reduzir os índices de informalidade, o projeto pode aumentar o mercado. Segundo cálculos do Ibope NetRatings, cerca de 7 milhões dos 47,6 milhões de domicílios do país têm computador, não necessariamente ligado à internet. Estudos do próprio IBCD mostram que há um potencial imediato de 5 milhões de famílias com renda e disposição para adquirir um PC nas condições estudadas pelo governo. Mas o apoio do governo ao projeto não está claro. Na semana passada, Cesar Alvarez, assessor especial da Presidência da República, responsável pelo projeto, afirmou que "há um prévio compromisso do governo em financiar entre R$ 200 e R$ 250 por unidade para o primeiro 1 milhão de máquinas vendidas". A forma como se dará esse benefício não está definida. "Pode ser um subsídio direto, um crédito em conta ou um crédito tributário", afirmou Alvarez. Para o presidente do IBCD, instituto que tem entre seus sócios empresas como EDS, IBM, Intel, Microsiga e Brasil Telecom, esse é um ponto importante a ser esclarecido. "Se os fabricantes terão de montar consórcios com o varejo, quem vai receber esse benefício e de que forma?", questiona. No caso de renúncia fiscal, "ela incidirá sobre qual parte da cadeia produtiva?", questiona. O crédito ao consumidor é outra dúvida. A forma de financiamento dos PCs não foi detalhada ainda, mas o governo não abre mão de que ele chegue ao usuário final em 24 parcelas de R$ 50. O preço tem de incluir software atualizado, suporte técnico e conexão à internet por ao menos 15 horas mensais.