Título: Brics criam fundo virtual de reservas para sinalizar força
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2012, Finanças, p. C12

Num cenário de grande incerteza global, os líderes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) acertaram ontem a formação de um fundo virtual de reservas para permitir operações de troca de moedas entre si, além de terem concordado em fazer um novo aporte de recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI), informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A expectativa é que o valor da oferta total dos Brics para o FMI fique entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões - Mantega não anunciou o montante a ser doado pelo Brasil nem pelo grupo. Os líderes dos Brics se encontraram ontem pela manhã, em Los Cabos, no México, antes da abertura oficial da cúpula do G-20, que termina hoje.

Segundo Mantega, o objetivo do fundo de reservas é fortalecer a confiança nos países do grupo, que, juntos, têm o maior volume de reservas do mundo, de mais de US$ 4 trilhões. A ideia é que os estudos para a implementação da iniciativa estejam prontos por volta da reunião de primavera do FMI de 2013, em abril, afirmou Mantega, ressaltando, porém, que os países já podem fazer trocas de moedas entre si. "Isso aumenta a confiança, porque você fica com mais bala na agulha".

Os Brics ainda não definiram os valores do fundo, disse o ministro, observando que a iniciativa é semelhante à feita pelo Federal Reserve (Fed) na crise de 2008, quando foram oferecidas operações de troca (swap) de moedas a vários países. No caso do Brasil, o Fed estendeu uma linha de US$ 30 bilhões para o Brasil, que não foi usada. Em 2010, o banco central americano voltou a lançar mão da medida. Mantega lembrou que os países asiáticos também têm um mecanismo semelhante, constituído na chamada iniciativa Chiang Mai, reunindo China, Japão, Coreia do Sul e mais um grupo de economias menores.

Mantega disse que a ideia do fundo virtual de reservas não implica aposta dos Brics numa piora da crise global, e nem que o grupo anteveja o risco de crises de balanço de pagamentos. "A ideia de um fundo de crédito recíproco é fortalecer a confiança." Cada país vai se comprometer com um determinado valor, que continuará, porém, vinculado às reservas de cada um. Em caso de necessidade, de acordo com regras a serem definidas, os Brics poderão sacá-los.

Outra decisão importante do grupo foi o novo aporte de recursos ao FMI, para o qual os Brics definiram duas condições, segundo Mantega. A primeira é que os novos recursos só sejam usados depois que o dinheiro existente no caixa do fundo for utilizado. Com isso, não haverá aporte imediato. A outra é que a reforma do poder de voto dentro da instituição seja levada a termo, cumprindo o acordo de reforma das instituições multilaterais definidas em 2010.

"Nós achamos que há um atraso por parte do FMI e parte de alguns países de concretizar o acordo realizado em 2010", afirmou Mantega, sem informar a contribuição do Brasil nem dos Brics. A imprensa indiana falava ontem em US$ 60 bilhões, e a expectativa é que fique entre esse valor e US$ 70 bilhões - em abril, os países do G-20 tinham decidido oferecer mais US$ 430 bilhões para o FMI, e as contribuições dos países avançados já somam cerca de US$ 360 bilhões, segundo o próprio Mantega.

Mantega também disse que os líderes dos Brics trataram da crise europeia, concordando que a estratégia atual, concentrada em austeridade fiscal e saneamento do sistema financeiro, não tem sido bem sucedida. "O antídoto vai além das medidas tomadas pelos países europeus até o momento. É preciso estimular o crescimento das economias e colocar em prática medidas de incentivo ao investimento na zona do euro." Segundo ele, os mercados e as populações perderam a confiança nas soluções que têm sido adotadas pelos países da zona do euro. "É preciso uma correção de rumos."

Mantega disse que a presidente Dilma Rousseff manifestou essa posição para o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, com quem teve uma reunião bilateral. Dilma também se reuniu com a presidente da Argentina, Cristina Kircher, e tinha encontros marcados com a chanceler alemã Angela Merkel e o russo Vladimir Putin.