Título: Falta de recursos prejudica agenda
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2006, Especial, p. A14

A pequena comerciante Heloísa Helena de Santana Barbosa, elegante, chegou cedo ao prédio da Câmara de Diretores Lojistas (CDL) de Aracaju, Sergipe. Nascida no interior e radicada na capital, ela declara seu voto na candidata da Frente de Esquerda e deixa logo claro que a coincidência de nomes tem pouco ou nenhum efeito sobre sua decisão: "Eu voto porque ela é uma mulher de fibra, de peito, uma nordestina que teve a coragem de enfrentar Antônio Carlos Magalhães (o senador do PFL baiano), de botar o dedo na cara dele e de tirá-lo do Congresso", disse.

Eram 9h30 de uma manhã chuvosa na capital sergipana quando Heloísa foi avisada por um funcionário da CDL que sua xará não viria. Viajando de avião de carreira e com compromissos definidos na última hora, a candidata não conseguira chegar a Aracaju para o compromisso, após cumprir agenda em Boa Vista, Roraima, no dia anterior.

Por conta do pouco dinheiro, da improvisação e, segundo participantes da campanha, do espírito centralizador da candidata, a campanha de Heloísa Helena é uma seqüência de improvisos que acaba prejudicando o resultado final. Na sequência do evento desmarcado em Aracaju, a candidata falou para uma platéia esvaziada de pais de um creche na periferia de São Paulo por conta do atraso na sua agenda. Um grupo de pais ficou desde as 8h à espera da candidata. Quando Heloísa Helena começou a falar uma hora e meia depois, os pais já tinham retardado demais sua chegada ao trabalho e não puderam esperar.

A carência de dinheiro explica em grande parte os problemas. Segundo Martiniano Cavalcanti, coordenador geral e financeiro da campanha, haviam sido arrecadados até o final da semana passada aproximadamente R$ 200 mil -incluindo R$ 8 mil do Fundo Partidário. Não estão incluídos os gastos com passagens da candidata, pagos, segundo Cavalcanti, por cada diretório anfitrião. De acordo com ele, a previsão de custo total da campanha é de R$ 400 mil, enquanto a expectativa de arrecadação, até agora, é de R$ 300 mil. A previsão de gastos corresponde a 0,45% dos R$ 89 milhões estipulados pelo PT como teto da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assessores da candidata admitem que há realmente problemas de dinheiro e de organização, mas destacam também que há uma posição de sacrifício na agenda errática de HH. Preocupada com a necessidade de atingir os limites impostos pela cláusula de barreira que pode inviabilizar o PSOL (os candidatos proporcionais do partido precisarão ter 2% dos votos em 9 Estados e 5% do total de votos do país), ela estaria priorizando na agenda compromissos nos quais possa reforçar a campanha dos candidatos do partido a deputado federal e estadual. (CS)