Título: Impedimento de Mendes foi cogitado
Autor: Prestes , Cristine
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2012, Especial, p. A12

Após sete anos de tramitação e inúmeros recursos protocolados, os advogados que defendem os réus do mensalão são unânimes ao afirmar que não planejam qualquer novo pedido antes da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No desenrolar da ação penal, o pleno da corte julgou 17 agravos regimentais, 8 questões de ordem e 4 embargos de declaração, além de um pedido de impedimento do relator Joaquim Barbosa, feito pela defesa do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e negado pelos ministros. Nos bastidores, no entanto, os criminalistas chegaram a cogitar um pedido de impedimento do ministro Gilmar Mendes.

A ideia surgiu após o episódio em que Gilmar Mendes denunciou ter sofrido pressão para adiar o julgamento do mensalão. Segundo o relato do ministro, durante uma reunião entre ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Nelson Jobim, realizada no escritório deste, Lula teria dito que seria "inconveniente" julgar o caso do mensalão neste momento. Ainda conforme o relato de Mendes, Lula também teria feito referências a uma viagem a Berlim em que o ministro se encontrou com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO, ex-DEM), cujo elo com o bicheiro Carlos Augusto Ramos está sob investigação na CPI do Cachoeira. Tanto Jobim quanto Lula confirmam o encontro, mas negam que o mensalão tenha sido um de seus temas.

Após a divulgação do episódio pela revista "Veja", os criminalistas chegaram a trocar ideias sobre um possível pedido de impedimento de Gilmar Mendes. Mas optaram por não levar a proposta adiante. Na avaliação deles, apesar de ter se indisposto com Lula, Mendes foi parcimonioso em seu voto quando o Supremo analisou o recebimento da denúncia do Ministério Público Federal. "Não houve prejulgamento dos réus e, durante os oito anos de governo Lula, o ministro votou várias vezes a favor do governo", disse um deles ao Valor.

O único recurso nesse sentido no mensalão foi feito contra o relator, ministro Joaquim Barbosa. Ele foi alvo de uma arguição de impedimento para que fosse declarado impedido de votar no julgamento da ação penal. O recurso foi impetrado pela defesa do réu Marcos Valério, a quem o ministro se referiu como "expert em lavagem de dinheiro" durante o julgamento em que a corte aceitou a denúncia do Ministério Público Federal. Em decisão monocrática, Barbosa rejeitou o recurso e Valério recorreu ao plenário do Supremo, que em maio negou o pedido por unanimidade.

Os criminalistas afirmam que, em tese, pedidos de impedimento poderiam ser feitos também contra o presidente da corte, ministro Ayres Britto, por ter sido filiado ao PT, e contra o ministro Dias Toffoli, por ter advogado para o PT - embora, neste último caso, o pedido não interesse a nenhum dos réus. Para eles, a decisão de Dias Toffoli de votar ou não no processo ainda é uma incógnita e só será conhecida às vésperas do julgamento do mensalão. (CP)