Título: A dança das commodities
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2006, EU & Investimentos, p. D1

A pergunta de um milhão de dólares hoje no mercado financeiro é o que irá acontecer com os preços das commodities. Nas últimas semanas, essas cotações vêm caindo muito, levando na esteira ações importantes como Vale do Rio Doce e Petrobras, assustando, inclusive, quem usou seu FGTS para comprar esses papéis. Só este mês, as ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras estão caindo 11,3% até sexta-feira. Como hoje quase a metade do Índice Bovespa (Ibovespa) é composto por papéis de empresas ligadas a commodities, esse movimento reverberou com força pela bolsa brasileira. Entre os papéis de petróleo, papel e celulose, mineração e siderurgia - setores importantes de commodities - que fazem parte do Ibovespa, apenas as ações da Aracruz, da Klabin e da Votorantim Celulose e Papel (VCP) não estão em queda este mês.

Um levantamento feito pela Economática mostra que os setores de commodities responderam por boa parte da desvalorização do Ibovespa. O setor de petróleo liderou as baixas, com uma desvalorização de 6,65% desde agosto - quando as quedas das commodities se intensificaram - até o último dia 20. Em seguida está o segmento de mineração, com queda de 4,65%, seguido por siderurgia, com baixa de 2,03% (ver tabela).

O resultado não poderia ser outro: o Ibovespa acumula queda de 6,15% de agosto até sexta-feira. "Depois que as ações das commodities passaram a ser as mais importantes do Ibovespa, roubando o lugar das teles, qualquer coisa que acontece com esses papéis dita o desempenho da bolsa", diz o chefe de análise da corretora Ágora, Marco Melo.

As quedas, no entanto, abriram boas oportunidades de compra de alguns papéis, dizem analistas. "Como os fundamentos das empresas são positivos, com uma demanda mundial ainda forte por seus produtos, as ações têm muito mais espaço para novas valorizações do que para quedas", diz Marcelo Aranha, analista da Fator Corretora. Os papéis da Vale e da Petrobras estão entre as pechinchas.

As dúvidas sobre o nível de crescimento mundial são o grande motivo dessa desvalorização. Apesar das expectativas dos economistas apontarem apenas para uma desaceleração da economia americana, enquanto isso não se confirmar, as commodities devem oscilar ao sabor de cada nova notícia, provocando grande volatilidade nas ações desses setores. "Os papéis continuarão oscilando e possivelmente passando por uma correção de preços pelo menos pelos próximos três a quatro meses", afirma o sócio do Banco Pátria, Luís Fernando Lopes.

Não bastassem as incertezas sobre o destino da economia americana, as movimentações dos fundos hedge internacionais, se desfazendo de grandes lotes de contratos futuros de commodities, intensificaram a queda. Nos últimos três anos, com o ciclo de alta desses produtos básicos, os fundos fizeram grandes posições e agora, ao primeiro sinal de retrocesso nos preços, iniciaram um processo maciço de venda.

"Essas vendas serão o grande motivo para os preços continuarem caindo até o fim do ano, é muito mais uma correção técnica do que pela economia americana, que tem tudo para experimentar um pouso suave ", diz Lopes. Ele estima que o CRB - o índice que mede os preços de uma cesta de commodities - deve cair entre 5% e 15% nos próximos 12 meses. Desde agosto, quando se agravou a queda das commodities, o índice já se desvalorizou 14% e a cotação dele, na casa dos 300,863 pontos é a menor desde julho do ano passado.

Apesar de todo esse cenário sombrio, os analistas estão otimistas e recomendam a compra das ações desses setores para longo prazo. "Os crescimentos projetados para os Estados Unidos e para o resto do mundo serão menores o ano que vem, mas estão longe de serem pobres e vão continuar impulsionando a demanda por commodities", diz Melo, da Ágora.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), estima um crescimento de 5,1% da economia mundial este ano e de 4,9% em 2007. Já para os EUA, prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4% este ano e de 2,9% o ano que vem. Além do recuo do crescimento não ser considerado uma desgraça, outros países extremamente importantes para a dinâmica da economia mundial devem continuar crescendo a taxas animadoras.

As expectativas são de que o crescimento da China, por exemplo, permaneça na casa dos 10% ao ano, beneficiando em cheio a Vale do Rio Doce. "A China vai continuar comprando muito minério, para sustentar esse crescimento e o seu forte processo de urbanização", diz Aranha, da Fator. Ele recomenda compra das ações da Vale e tem um preço alvo de R$ 64, o que significa uma alta de nada menos de 68,9% frente ao fechamento de sexta-feira.

O analista é um pouco mais cético com relação ao desempenho das siderúrgicas, uma vez que o aumento da oferta, com novas plantas entrando em funcionamento, tende a provocar queda nos preços. Já o aquecimento da economia brasileira deve beneficiar os produtores de aços longos, usados na construção civil, como Gerdau e Arcelor, lembra Aranha, que recomenda a compra das ações de ambas.

A outra grande dúvida é com relação ao preço do petróleo, que vai ditar o destino das ações da Petrobras. Em julho, o barril chegou ao pico de US$ 70 e desde então vem caindo e hoje está na casa dos US$ 60. "Esse nível de preços ainda é muito bom e permite que a Petrobras continue no caminho certo de altos lucros e rentabilidade", diz Marcos Paulo Fernandes Pereira, analista da Fator, que recomenda compra dos papéis da empresa, com preço alvo de R$ 58,85, uma alta de 54,3% frente ao fechamento do papel na sexta-feira.