Título: Facchini prepara-se para entrar no competitivo ramo de autopeças
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Empresas, p. B8

Tradicional fabricante de carrocerias, a Facchini se prepara para entrar no ramo de autopeças. A empresa está na fase de negociação com uma grande montadora. O plano é fornecer para a indústria automobilística peças como eixos e sistemas completos de freios e suspensões para veículos de carga a partir de Cosmorama, onde foi erguida recentemente a quinta fábrica do grupo familiar de Votuporanga, no interior paulista.

Fundada em 1950, a Facchini cresceu de forma muito discreta. As placas com o nome da empresa fixadas nas carretas que circulam pelas estradas servem como única forma de propaganda. Seus proprietários são avessos a aparições públicas, mas acompanham de perto cada passo da economia brasileira, notadamente o que acontece no agronegócio, uma das suas principais fontes de demanda.

O impulso na ascensão da Facchini ocorreu em 1996, quando a família que leva o mesmo nome decidiu ampliar o ramo de atividade, até então limitado ao mercado de caminhões leves. A empresa começou, então, a atuar no segmento dos veículos pesados, um mercado até hoje dominado pela Randon, maior empresa do setor de carrocerias do país, sediada no Rio Grande do Sul.

Com o passar dos anos, as vendas cresceram. Altamente verticalizada, a empresa construiu, há um ano e meio, uma fábrica exclusivamente dedicada à produção de peças. Ali são feitos os eixos usados nos veículos que funcionam com semi-reboques e é essa unidade que está sendo preparada para se transformar em fornecedora das montadoras. Quando isso acontecer, a Facchini, que hoje atende apenas aos transportadores de carga, passará a fornecer também para a indústria automobilística.

Ao lado, no mesmo terreno, foi erguido um prédio que abrigará uma fundição. Mais um passo dado pela família Facchini para reduzir a dependência de terceiros.

Dois irmãos - Rubens, de 59 anos, e Euclides Jr, de 50 -, filhos do fundador, Euclides, cuidam dos negócios. Rubens é o presidente e Euclides o diretor comercial. Mas todas as decisões são tomadas em conjunto e alinhadas com a estratégia de manter a atividade como negócio familiar, sustentado sempre em capital próprio e com tecnologia de primeiro mundo.

No fim-se-semana Rubens e Euclides seguiram para Hannover, Alemanha, onde acontece uma das mais importantes feiras mundiais de mecânica, evento que serve para que a família descubra novidades, como máquinas de corte de aço a laser. O grupo já está adquirindo o quarto equipamento do gênero.

A Facchini é a principal empresa de Votuporanga, município a 520 km de São Paulo, na região noroeste do Estado. Apesar do seu gigantismo, que contrasta com o perfil rural da região, o grupo mantém o ar interiorano. Resultado, sobretudo, do jeito humilde de proprietários.

Homem culto, Euclides lamenta a falta de uma política agrícola no país, maneira, a seu ver, de os negócios no campo não sofrerem as consequências das desvantagens cambiais, como acontece hoje. O empresário já conta com mais um ano difícil na agricultura em 2007.

Mas já se tornou tradição na família estruturar a empresa nos períodos ruins para depois tirar proveito dos bons. "Caso contrário, só se vê depois a banda passar", diz.

No entanto, os tempos ruins para os negócios no campo não chegam a tirar o sono dos Facchini. Depois que começou a atender o segmento de veículos pesados, a empresa experimentou novos mercados, formados por produtos de maior valor agregado.

A empresa atua em duas áreas básicas - carrocerias sobre chassis e semi-reboque e hoje atua num total de 80 segmentos, segundo cálculos de Euclides. "Isso nos permite trabalhar de acordo coma sazonalizade de cada um", afirma.

Se repetisse o resultado do ano passado, quando obteve uma receita líquida de R$ 323,7 milhões, a Facchini já estaria em vantagem, visto que o mercado de caminhões está em queda. Mas as projeções de Euclides indicam um crescimento de 20% para 2006. A quantidade de peças produzidas, que estava em torno de 2 mil unidades por mês, já está chegando a 4 mil com o plano de expansão, que ainda permanece em curso.

Do total faturado, 5% vêm das exportações, que seguem para a América Latina, África e até Cuba. Euclides gostaria de vender mais no exterior. Mas diz que hoje não existe estímulo cambial para isso.

Os investimentos nessa empresa são feitos de acordo com a necessidade - "no fio da navalha", como define Euclides. Segundo seus cálculos, nos dois últimos anos foram gastos R$ 30 milhões em expansão e compra de equipamentos. Mas nada foi destinado à publicidade.

A família Facchini não é adepta do provérbio de que propaganda é a alma do negócio. Para Rubens, irmão que tem o papel de presidente da empresa, preço tem peso maior nesse ramo. "Somos capazes de ganhar um contrato de um concorrente que faz propaganda em razão de uma diferença de R$ 10", afirma.