Título: Método estuda atuar nas áreas de geração e transmissão
Autor: Boechat, Yan e Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Empresas, p. B10

A Método Engenharia está se preparando para entrar nos mercados de geração e transmissão de energia. A empresa, que passou por uma reestruturação financeira e societária concluída no ano passado, vem negociando com grandes companhias de característica eletrointensiva para se transformar em uma fornecedora de energia gerada por Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). A área de transmissão, na qual a empresa participou de uma licitação privada esse ano sem sucesso, também está nos planos da companhia.

O projeto de entrar no mercado de energia ainda é embrionário, mas a empresa vem trabalhando para, ainda esse ano, conseguir fechar seu primeiro negócio no setor. O presidente da empresa, Hugo Marques da Rosa, não revela detalhes da operação, mas confirma que vem negociando com alguns grandes consumidores privados do insumo. No momento a Método está em fase adiantada de negociação com pelo menos uma grande empresa eletrointensiva.

A idéia, de acordo com o executivo, é construir e operar uma ou mais PCHs para atender demandas específicas. Por não ter experiência na operação, a empresa vem buscando parceiros com tradição nessa área para se associar no projeto de geração. "Estamos conversando com empresas do setor para atuar em projetos específicos", afirma Hugo Marques da Rosa.

Na verdade, a Método Engenharia não é exatamente uma novata no setor de PCHs. Há cerca de meia década, a companhia brasileira investiu pesado e passou a construir essas pequenas centrais, mas nunca assumiu a parte operacional.

Mesmo não revelando detalhes a respeito da minuta contratual que já mantém com essa grande companhia, o Valor apurou que para erguer uma PCH a companhia necessariamente precisará desembolsar entre US$ 13 milhões e US$ 55 milhões. "Há PCHs com potência de 1 megawatt, mas as que são economicamente viáveis tem inicialmente 10 megawatt", comenta uma fonte do setor.

Para tirar do papel, portanto, um empreendimento minimamente viável, o setor estima que a Método precisará desembolsar ao redor de US$ 13 milhões, o que lhe traria um faturamento anual de R$ 7 milhões.

Mas se a empresa decidir por uma grande PCH, cuja potência é de 30 megawatts, o investir subiria para cerca de US$ 55 milhões, mas também o faturamento passaria para R$ 20 milhões por ano.

"Investir em PCH é um excelente negócio, porque é como se fosse uma aplicação de renda fixa pelas suas características contratuais", comenta outro especialista do setor. Em outras palavras, significa que, como em geral os contratos são de 30 anos e o empreendimento se paga em 10 anos, as últimas duas décadas do acordo funcionam como remuneração ao investidor.

Hoje o custo do MW/h é ao redor de R$ 15, decorrentes de atividades de manutenção e operação. E caso se considere o preço de hoje do MW/h no mercado, que é de R$ 30, logo o investidor acaba por ter uma lucratividade de 100% em 20 anos.

O fato é que a diversificação de atuação da Método faz parte de um amplo plano para preparar a companhia para uma futura volta ao mercado de capitais. A empresa foi uma das primeiras do setor a se aventurar na Bolsa. Abriu seu capital em 1998, mas não obteve sucesso e voltou a ser uma companhia fechada em 2005. Nos últimos anos enfrentou graves dificuldades financeiras, que por pouco não a levaram à lona. Mas desde o ano passado a companhia vem mostrando recuperação. Em 2005 conseguiu lucrar (R$ 3,5 milhões) e espera ver sua receita duplicar nesse ano. No ano passado seu volume de produção chegou a R$ 164 milhões e a expectativa para 2006 é dobrar esse valor.

Cada vez mais focada na área empresarial e hoteleira, a Método tem apostado também na expansão internacional. A companhia hoje tem operações no Uruguai, Argentina e Chile. A guinada em direção ao setor de energia faz parte também dessa estratégia de diversificação que vem se consolidando nos últimos anos. Na visão de Hugo Marques, para aproveitar a "janela aberta" do mercado acionário a empresa precisa ter projetos consistentes e um diferencial em relação aos concorrentes para seduzir os investidores. "Tivemos uma experiência ruim, precisamos estar sólidos para voltarmos", diz ele.