Título: Gol amplia atuação no Cone Sul
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Empresas, p. B2

Em meio a uma agressiva campanha publicitária para lançar suas operações no Chile, que está consumindo US$ 1 milhão em investimentos na área de marketing e inclui comerciais na televisão local, a Gol anunciou ontem planos para chegar a todos os países da América da Sul até 2010. A companhia aérea pretende reforçar a sua atuação internacional nos próximos cinco anos, voltando-se também ao transporte de passageiros entre as capitais de países vizinhos, sem passar pelo Brasil.

Essa estratégia ganhou forte impulso no início desta semana, com a inauguração da rota São Paulo-Buenos Aires-Santiago. Serão três vôos diários, de ida e volta, além de duas novas freqüências diretas entre Brasil e Chile que devem começar a funcionar em novembro. No mês que vem a empresa quer ainda dar início às operações para Lima. Na capital peruana, serão recolhidos passageiros para Santiago, para onde o vôo continuará - e vice-versa, no trajeto de volta.

"Há espaço para implementarmos nosso modelo de negócios em toda a América Latina", avalia o vice-presidente de marketing e serviços da Gol, Tarcísio Gargioni. "Somos candidatos a voar para o México, Colômbia, Venezuela e Equador, inclusive com vôos entre os países", acrescenta o executivo.

As negociações mais adiantadas envolvem o México, para onde a empresa acaba de receber a designação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e terá seis meses para implementar a rota. O vôo, a partir de São Paulo, deverá fazer escala no Peru e servirá como ferramenta de expansão da companhia nos países latino-americanos, ao entrar na disputa pelos passageiros da linha Lima-Cidade do México. "O nosso objetivo é popularizar e integrar o transporte aéreo em toda a região", comenta Gargioni.

A capital chilena é o sétimo destino internacional da Gol - que já atende Buenos Aires, Córdoba e Rosário (na Argentina), além de Montevidéu, Assunção e Santa Cruz de la Sierra. O pouso da companhia em Santiago causou furor na imprensa local, que questiona a capacidade de sustentar as operações locais com tarifas mais baixas que a concorrência. A Gol lançou duas promoções, sem data para acabar, nos vôos de Santiago com destino a Buenos Aires (US$ 98) e a Sao Paulo (US$ 139) - preços para bilhetes de ida e volta.

"Essas dúvidas também foram lançadas no início das nossas operações no Brasil, em 2001, quando diziam que não duraríamos três meses", rebate Gargioni. Hoje a empresa tem 37% do mercado doméstico brasileiro. Segundo o vice-presidente, os países da região constituem mercados receptivos ao modelo "low-cost, low-fare" da Gol, com o que ele chama de potencial para a criação de demanda. Ou seja, promover o transporte aéreo entre gente que nunca andou de avião e aumentar o número de viagens daqueles que costumam voar pouco.

As práticas adotadas pela Gol - vendas concentradas na internet, bilhete eletrônico, lanches espartanos e sem programa de milhagem - são uma novidade no Chile. Por isso, a companhia brasileira não procura uma concorrência direta com a Lan Chile, líder no mercado local. "Há dois mercados distintos", explica Gargioni. "Uma tem vinho a bordo e sala VIP nos aeroportos, mas o usuário paga por isso. Nós estamos concentrados no passageiro que tem sensibilidade a preço, mas não com aviões velhos e serviços ruins, como as pessoas costumam imaginar uma empresa aérea de baixo custo."

O executivo aposta na boa aceitação da Gol nos países vizinhos e cita o exemplo da Argentina. Hoje, segundo ele, quase 60% dos passageiros nas rotas que ligam Buenos Aires a capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis) sao argentinos.

Para o mercado brasileiro, a Gol também prepara novidades. Serão inaugurados vôos para Imperatriz (MA) na primeira semana de outubro, mas o maior destaque - ainda sem data exata - passa pela área de vendas. Nos próximos meses, o site da empresa começará a aceitar cartões de débito para o pagamento de bilhetes e permitirá a emissão de boletos bancários para a cobrança em parcelas. Atualmente, 84% das vendas da companhia sao feitas pela internet.