Título: Só Temer fala: não há atrito
Autor: Pariz, Tiago; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2010, Política, p. 7

Futuro vice-presidente diz ser o único porta-voz do PMDB e ressalta que o PT tem tratado o seu partido com privilégios

Especial para o Correio

Para estancar um atrito iminente entre o PT e o PMDB, o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP), enquadrou caciques do partido. Colocou-se como o único porta-voz das intenções peemedebistas no governo da futura presidente Dilma Rousseff e pediu o fim das cobranças públicas por espaço na Esplanada dos Ministérios.

Depois de reunir-se com a presidente eleita para um café da manhã, Temer encontrou-se com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (AP), os deputados Henrique Eduardo Alves (RN) e Eduardo Cunha (RJ), além do senador Eunício Oliveira (CE). O discurso repetido foi o seguinte: Dilma está dando tratamento privilegiado ao PMDB, não há atritos com o PT e não é hora de fazer uma lista de demandas.

Temer quer evitar que recados cheguem à equipe da futura presidente em forma de mensagem cifrada. Na segunda-feira, peemedebistas reclamaram que estavam se sentindo escanteados das primeiras reuniões com Dilma. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) alegaram que as insatisfações não foram externadas nas conversas entre eles.

Mesmo assim, está cristalizada uma desconfiança do PMDB em relação ao PT. A campanha de Dilma, ao contrário do que alega o vice-presidente eleito, não deu tratamento privilegiado aos peemedebistas. Depois de eleita, Dilma sequer lembrou de Temer para colocá-lo na equipe de transição. O nome surgiu somente depois da cobrança pública de parlamentares aliados do vice.

Michel Temer passou uma borracha nessas insatisfações. E, apesar de a maioria do partido só estar interessada em qual fatia do bolo público terá direito a partir de 2011, quer tentar limpar a imagem de que o partido só está interessado em cargos. Não vamos tocar em assunto de mudança de ministério. Toda vez que se toca nesse assunto, parece que o PMDB está atrás de cargos. E não é isso. Falo aqui mais como membro do governo, vice-presidente, do que como presidente do PMDB, afirmou Temer, dizendo que a relação entre o PT e o PMDB está pacificada.

O vice disse que ainda não há nomes para compor o futuro governo e pregou que todos os partidos tenham representação. Ainda não há nomes de ministros. Nós apenas dissemos que todos os partidos terão participação, assim como ocorre hoje no governo Lula. Será uma espécie quase de sequência do governo. Vamos trabalhar nessa direção, sem nomes e sem definição de ministros por enquanto, sustentou.

Recado foi entendido O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, juntou-se a Michel Temer para a pacificação com o PT. Ele prega que a harmonia entre os dois partidos é mais importante no governo de Dilma Rousseff do que no de Luiz Inácio Lula da Silva.

O argumento é de que Lula tem capital político suficiente e jogo de cintura para contornar crises e insatisfações. A Dilma, por outro lado, falta o traquejo da negociação. Por isso, ela vai precisar se escorar nos aliados para conduzir conversas com o Congresso Nacional.

O recado de Temer foi entendido entre parlamentares. Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) disse que não haverá rebelião ou queda de braço do partido com o futuro governo. O PMDB vai fazer o que Dilma disser, afirmou o parlamentar gaúcho. Para evitar novos atritos, ficou acertado que a discussão sobre a Presidência da Câmara será retomada em janeiro. O único acerto é que PT e PMDB farão um rodízio, sem saber ainda quem indicará o terceiro nome da República para o primeiro biênio.

Dirceu à disposição

Sem dizer que papel poderia exercer no novo governo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que vai estar à disposição da presidente eleita Dilma Rousseff depois que for julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Eu dei provas todos esses anos de que sirvo ao meu país, ao meu partido, ao PT, e ao presidente Lula em qualquer situação, disse. Agora, segundo Dirceu, suas energias estão concentradas na comprovação de sua inocência. Ele é acusado de ser o articulador do mensalão, um esquema de corrupção de parlamentares e de agentes públicos revelado em maio de 2005.