Título: "Isto não é Cristo,é o demônio", diz FHC sobre Lula
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Política, p. A9

O PSDB e o PFL radicalizaram o discurso na última semana de campanha eleitoral para o candidato à Presidência, Geraldo Alckmin. No ato "por um Brasil decente", realizado em um clube em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi chamado de "gângster" pelo prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL) e comparado ao demônio pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Isto não é Cristo, isto é o demônio, e nós temos que expulsá-lo", disse o ex-presidente, em uma ironia ao fato de Lula ter-se comparado a Cristo e a Tiradentes como uma vítima de traição de companheiros, em um discurso no domingo. Alckmin também partiu para o ataque. "Ele é o Judas dessa história, porque traiu o povo", disse o candidato, para quem "Lula teve o desplante de ofender o cristianismo e a história".

O candidato ao governo paulista, José Serra foi irônico: "O PT conseguiu desmoralizar até o escândalo", disse, a uma platéia entre 2 mil e 3 mil pessoas. Além de atacar, os tucanos e pefelistas tentaram motivar a militância. "Pelo conjunto de pesquisas que temos analisado, Geraldo Alckmin vai ganhar no primeiro turno. Anotem e cobrem", disse o prefeito pefelista Cesar Maia.

Durante o encontro, houve uma proposta de ação. Fernando Henrique sugeriu que um advogado do PSDB passe a acompanhar as investigações sobre a origem do dinheiro da negociação do dossiê contra José Serra. De acordo com o ex-presidente o mesmo procedimento foi feito pelo PT no caso Celso Daniel, época em que Fernando Henrique era o presidente. O nome sugerido foi o do jurista Miguel Reale Jr, integrante da campanha do PSDB à Presidência.

O ex-presidente insinuou que poderia haver um golpe de Estado nos próximos anos, caso o presidente Lula seja reeleito, e disse que "essa gente não quer respeito alheio", referindo-se aos opositores petistas.

Pefelistas e tucanos também criticaram as declarações dadas pelo presidente Lula sobre as ações de seus assessores e do presidente do PT, Ricardo Berzoini, na compra do dossiê. "Se o presidente não sabe de nada, é idiota. Se sabe, tem que ir para a cadeia", discursou Cesar Maia. O prefeito do Rio classificou Lula como "dedo duro" e disse que o petista sofre com uma "falha de caráter" por não ser solidário com seus companheiros. O pefelista atirou farpas também para integrantes do governo federal. "Se fosse o governo de um estadista, teria como ministro da Justiça um jurista, Como é um governo de bandidos, tem como ministro da Justiça um criminalista", disse, referendo-se ao ministro Márcio Thomaz Bastos. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, disse que o país não tem governo - "é uma quadrilha que governa o país".

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse sentir-se "obrigado a falar" sobre os escândalos envolvendo o PT -"me dá coceira na língua"- e foi duro em sua crítica. "A culpa não é de quem é escolhido. A culpa é de quem escolhe porque tem o dedo podre", protestou. "Nós vamos governar com as mãos limpas", disse.

Na reta final da campanha, os opositores ao governo Lula não pouparam ataques ao presidente e ao PT. "Esse partido tem uma vocação irresistível para a criminalidade", gritou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati. "Existem três coisas que só acontecem uma vez na vida: nascer, morrer e votar no PT", ironizou o candidato a vice na chapa de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE). Na mesma linha, Alckmin finalizou: "Pena que o PT e o Lula tenham se transformado em uma história de polícia, de horror, de vergonha".