Título: BNDES pode evitar "apagão logístico"
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Especial, p. F2

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou até novembro R$ 14,1 bilhões referentes a projetos da área de infra-estrutura, ou 40% a mais do que em igual período de 2003. A maioria dos recursos foi para o setor de energia elétrica, que recebeu R$ 6,4 bilhões no período. Para 2005, a infra-estrutura continuará sendo prioridade do banco, que deverá também estrear com financiamentos nos projetos de parcerias público-privadas, as famosas PPPs. O número de projetos de infra-estrutura já aprovados este ano pelo BNDES, que estão só aguardando o sinal verde da direção para liberação dos recursos, atinge no acumulado do ano R$ 12,2 bilhões, dos quais R$ 4,5 bilhões do setor elétrico, seguidos por R$ 3,5 bilhões para transporte terrestre (rodovia e ferrovia). Telecomunicações responde por R$ 1,9 bilhão. Boa parte desses projetos aprovados será desembolsada em 2005. Os números indicam uma intenção forte das empresas de investir em infra-estrutura. Só os projetos enquadrados dessa área somam R$ 18,8 bilhões e uma parcela dessa carteira tem chance de ter recursos desembolsados em 2005. O valor das consultas encaminhadas ao banco por potenciais investidores em empreendimentos logísticos é impressionante: R$ 29 bilhões até novembro. Todos esses dados de aprovação, enquadramento e consultas reforçam as expectativas de que 2005 será o ano da infra-estrutura, diz o superintendente da área de Planejamento do BNDES, Maurício Piccinini. Ele acredita que o atual presidente do banco, Guido Mantega, passará bem pelo desafio de ter de liberar R$ 60,8 bilhões - orçamento do banco para 2005 - pois a demanda potencial de desembolso alcança já R$ 56 bilhões. O que se espera, porém, como destaca o presidente do Sindicato Nacional da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Santos Reis, é que esses projetos sejam em boa parte realizáveis a curto prazo, para evitar o que os empresários do setor mais temem acontecer nos próximos meses: um "apagão logístico". Reis constata que em termos de recursos orçamentários, o governo realmente está dando uma dotação orçamentária para a área de transporte quatro vezes maior que a do ano passado: R$ 2,8 bilhões. Mas reconhece que esse valor está bem abaixo da necessidade de recursos para o país. Um estudo do Sinicon, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), calcula que será preciso investir R$ 7 bilhões ao ano só na área de transporte para evitar gargalos como as filas de caminhões de soja a caminho dos portos nacionais. Para as duas entidades, na realidade, teriam de ser aportados R$ 29 bilhões por ano para afastar de vez o risco do "apagão logístico". O BNDES tem uma carteira potencial de R$ 4,3 bilhões em projetos aprovados este ano na área de transporte, incluindo aí transporte terrestre (rodovia e ferrovia), aquaviário (hidrovias) e transporte aéreo, mais atividades anexas de transporte, como terminais, portos, plataformas e granéis. Em termos de projetos enquadrados, o portfólio de desembolso até novembro de 2004 alcança R$ 4,8 bilhões, superior às aprovações que indicam liberações para 2005. Os três maiores projetos de empresas aprovados nos nove primeiros meses de 2004, no BNDES, são da área de infra-estrutura: Embraer, que recebeu R$ 2,7 bilhões; BR Telecom, R$ 1,26 bilhão, e Petrobras, R$ 1 bilhão para a plataforma 52. Também tem destaque o financiamento para a usina termelétrica Norte Fluminense/Macaé, de R$ 750 milhões. A Ôi também chama a atenção com um crédito de R$ 663 milhões. A grande expectativa para os próximos meses está assentada nas PPPs. Na visão do presidente do Sinicon, entre aprovação e regulamentação as PPPs vão demorar cerca de um ano para sair do papel. Reis não descarta, porém, a possibilidade de as PPPs atenderem, via BNDES, alguns setores como o ferroviário, rodoviário e irrigação. O empreiteiro, da Carioca Engenharia, não crê que o BNDES tenha condições de atender às PPPs em grande escala. Ele aponta a necessidade de se convencer agentes econômicos importantes a participarem dessas operações, como os fundos de pensão.