Título: Polícia Federal e Coaf só têm pistas para 1,5% dos recursos pagos por dossiê
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Política, p. A10

A Polícia Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) terão mais dificuldades do que imaginavam para identificar a origem do dinheiro supostamente usado para pagar a compra de um dossiê anti-PSDB por integrantes do PT. Diferentemente das informações divulgadas na semana passada, apenas R$ 25 (1,5%) mil do R$ 1,7 milhão apreendidos em São Paulo por policiais federais são de fácil rastreamento. Além disso, o Coaf fez um levantamento junto ao sistema financeiro e não detectou nenhuma movimentação suspeita entre as pessoas físicas e jurídicas acusadas pela compra do dossiê.

A PF fez uma análise do dinheiro. De todas as notas, apenas R$ 25 mil foram identificados: R$ 15 mil vieram do Bradesco, R$ 5 mil do Banco Safra e outros R$ 5 mil do BankBoston. Essas notas continham uma cinta identificadora dos números. As demais terão de ser rastreadas. Essa pesquisa foi um dos pedidos feitos pelo delegado da PF Luiz Flávio Zampronha ao presidente do Coaf, Gustavo Rodrigues, em reunião realizada ontem.

Os demais pedidos de Zampronha foram, de certa forma, respondidos ainda durante o encontro de ontem. Ele iria pedir ao Coaf um rastreamento nas movimentações financeiras suspeitas acima de R$ 10 mil e todas aquelas acima de R$ 100 mil realizadas pelos envolvidos no esquema para a compra do dossiê. O Coaf se adiantou ao pedido e fez um relato parcial de rastreamentos já feitos nos nomes de Valdebran Padilha, Expedito Afonso, Jorge Lorenzetti, da ONG Unitrabalho e das demais pessoas e empresas envolvidas. Em nota divulgada à imprensa, o Coaf diz que "não foram encontrados registros de comunicações de operações suspeitas, de saques em espécie das pessoas envolvidas ou outro registro que permita inferir ligação com o caso". Com tais revelações, a PF já avisa que dificilmente conseguirá encontrar a origem do dinheiro antes das eleições.

A PF avalia que será mais rápido saber qual a origem dos dólares, que estavam com cintas do tesouro dos Estados Unidos. A descoberta de onde partiram as notas depende, agora, do tempo de resposta das autoridades americanas, já acionadas pela PF. Não está descartada pela polícia uma possível participação de algum banco brasileiro na entrada do dinheiro no país, a exemplo do suposto envolvimento dos bancos Rural e BMG no esquema do mensalão.

O delegado federal do caso, Diógenes Curado, se reuniu com sua equipe durante o final de semana. Avaliou todos os avanços feitos até agora e encaminhou diversos pedidos ao juiz federal Jefferson Schineider. Os agentes também começaram um trabalho de reconhecimento nas fitas do sistema de segurança do hotel de São Paulo onde o dinheiro foi apreendido com os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos.

A oposição vê as revelações de ontem como o início de um processo de acobertamento da história e de envolvimento de petistas de alto escalão. O candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, cobrou mais agilidade nas investigações: "Como é que o dólar entrou no Brasil? De maneira ilegal".

O governador Aécio Neves, candidato tucano à reeleição em Minas Gerais, cobrou respostas da PF. "É preciso que antes do dia 1º todas as questões estejam esclarecidas. E acho que interessa à PF, do ponto de vista institucional, que isso ocorra. A polícia não pode ser de um partido ou de um governo", declarou.