Título: Lula culpa Berzoini por "bando de aloprados"
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou ontem o discurso sobre as responsabilidades no escândalo do dossiê. Na semana passada, em entrevista ao "Bom Dia Brasil", disse que afastou o presidente do PT, Ricardo Berzoini, para que ele "não passasse os últimos dez dias de campanha tendo de dar explicações sobre o episódio". Ontem, em entrevista às rádios Capital (SP) e Tupi (RJ e SP), culpou Berzoini pela contratação dos demais petistas envolvidos no caso. "No caso do pessoal que cuidava da pseudointeligência da minha campanha, nem fui eu que escolhi. Quem escolheu foi o presidente do meu partido, que era coordenador da minha campanha", afirmou.

O presidente foi ainda mais ácido ao chamar os demais envolvidos no caso - um diretor afastado do Banco do Brasil (Expedito Veloso), dois integrantes de seu comitê de campanha (Gedimar Passos e Jorge Lorenzetti) e seu ex-assessor Freud Godoy - de um "bando de aloprados": "O que eu quero saber é quem montou a engenharia política para essa barbárie que foi feita. Eu quero saber quem foi o engenheiro que arquitetou uma loucura dessas".

Pressionado pelas mais recentes pesquisas de opinião, que sinalizam uma possibilidade de segundo turno - no Ibope divulgado domingo a diferença entre o percentual de votos de Lula e a soma dos demais adversários diminuiu para apenas três pontos -, Lula não poupou seus antigos companheiros de campanha, chamados de "esses meninos" na semana passada. "As pessoas que cometeram essa barbárie vão ter que pagar. Se eu tivesse que construir a imagem do que aconteceu, eu construiria um monumento à insanidade. Pessoas que estavam achando que estavam marcando um gol a favor, marcaram um gol contra. Tudo que a minha campanha não precisava era que se cometesse o absurdo que foi cometido", disse ontem o presidente.

Apesar disso, Lula, a exemplo dos escândalos anteriores, eximiu-se de envolvimento com o caso e procurou distanciar-se o máximo possível dos demais petistas. "Não admito que errei ao escolher meus pares. Tem tanta gente que casa e depois de um ano descobre que a mulher não era a mulher ideal. Namorou seis, sete, oito, nove, dez anos e depois que casa, descobre que não deu certo. Assim é que funciona a vida humana", disse o presidente.

Lula voltou a dizer que só há três formas de um presidente saber de algo que esteja acontecendo de errado: se ele tiver envolvimento, se algum envolvido lhe contar ou se houver uma denúncia anônima ou pela imprensa. "O que é importante é que, quando você souber, tome as decisões que tem de tomar e puna quem tem de punir".

Lula não crê em influência maior desse escândalo em sua campanha. Em contradição com suas afirmações anteriores sobre a gravidade das denúncias, disse aos ouvintes: "Nós temos todas as condições de ganhar as eleições porque o povo também tem uma sensibilidade enorme para saber o que é denúncia de época de campanha e o que são as coisas boas ou más que o governo vem fazendo. O saldo do governo é extremamente positivo".

O presidente lembrou que foi alvo de três CPIs e disse que jamais moveu-se para impedir o andamento das investigações.

Lula, que vai reforçar nesta última semana a estratégia de mobilização da militãncia e de entrevistas no rádio e na televisão -- quarta-feira dá entrevista à TV Record, na quinta deve fazer uma nova rodada de entrevistas para rádios e nesse mesmo dia poderá comparecer ao debate da TV Globo, uma decisão a ser tomada definitivamente na véspera -, mostrou-se otimista com a possibilidade de um novo mandato. Acha que será melhor do que o primeiro e que não cometerá os mesmos erros. "Podemos montar uma equipe muito melhor porque já temos conhecimento da estrutura do governo, da máquina pública, de quem é quem no cenário político", justificou Lula.

Segundo a assessoria do PT, o deputado Ricardo Berzoini não considera que Lula o tenha acusado de ser o responsável pela operação.

Berzoini admite que a contratação de pessoal passa pela coordenação nacional da campanha, mas não os atos praticados por essas pessoas. Depois do escândalo, o presidente do PT foi afastado da coordenação de campanha e passou a cuidar exclusivamente de sua campanha a deputado federal.