Título: Humberto Costa e Delúbio são denunciados
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Política, p. A10

O ex-ministro da Saúde Humberto Costa, candidato do PT ao governo de Pernambuco, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foram denunciados, ontem, à Justiça pelo Ministério Público Federal. Costa e Delúbio são acusados de participação na máfia dos Vampiros - um esquema de corrupção envolvendo a venda superfaturada de derivados de sangue. Eles foram denunciados ao lado de outras 31 pessoas.

O autor da denúncia, o procurador da República Gustavo Pessanha disse que o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula à Presidência em 2002, também serão investigados. Dirceu é citado num documento: o seu nome aparece ao lado de um percentual. Duda é mencionado nas gravações em áudio obtidas pelo MP. "Há a possibilidade de envolvimento de Duda e Dirceu, que será investigada", disse Pessanha, reiterando que ainda não possui provas para oferecer denúncia contra ambos.

Pessanha afirmou que a denúncia foi apresentada ontem, a seis dias das eleições, porque era o prazo final fixado pela Justiça para fazê-lo. Com isso, ele afastou as especulações de que a denúncia teria razões políticas, de prejudicar a campanha de Costa.

O procurador reclamou bastante da Polícia Federal, que, em 2004, obteve transcrições telefônicas, mas não encaminhou essas provas ao MP. "Houve uma falha extremamente grave da PF de não revelar o conteúdo desses diálogos", criticou o procurador. Segundo ele, a "falha" será investigada. E, de um ano para cá, a PF tem colaborado com o MP na apuração da máfia dos Vampiros, de modo que não há queixas deste último período.

Pessanha informou que os diálogos telefônicos foram fundamentais para identificar o esquema e seus atores. Ele disse que a máfia já atuava no governo anterior. "A estrutura da quadrilha já existia no governo do PSDB, desde 1998", enfatizou. Mas, só foi possível aprofundar as investigações com as interceptações telefônicas que começaram em 2003. Logo, não é possível falar num eventual envolvimento do candidato tucano ao governo de São Paulo e ex-ministro da Saúde, José Serra, explicou o procurador.

O esquema funcionava com a participação de lobistas, empresários, políticos e servidores públicos (grande parte deles do Ministério da Saúde). Segundo Pessanha, Costa sabia do esquema ilegal e não fez nada para impedir o seu funcionamento. Pelo contrário. "O que foi apurado é que ele participava, tinha conhecimento e dava respaldo", afirmou Pessanha.

Já Delúbio era, segundo apurou o MP, um destinatário do dinheiro. "A sua função era arrecadar dinheiro", acusou Pessanha. "Para onde?", perguntou um jornalista. "Boa pergunta", respondeu o procurador. "Mala de dinheiro é difícil saber para quem vai", continuou Pessanha.

O procurador explicou que a polícia conseguiu interceptar alguns carregamentos de dinheiro. Um deles, de R$ 723 mil seria destinado, em parte, a Delúbio. Outro, de R$ 350 mil, seria enviado a servidores envolvidos na máfia. "Na verdade, quando a empresa pagava, o percentual, a título de propina, era dividido por servidores, lobistas e empresários", disse Pessanha. "Não posso dizer que o dinheiro era para o PT", completou.

Costa foi denunciado pelos crimes de corrupção passiva e formação de quadrilha. Delúbio por esses mesmos crimes mais lavagem de dinheiro. Costa e Delúbio eram de dois grupos distintos do esquema, disse o procurador. "Esses grupos disputavam poder e vantagens na organização criminosa", completou, ressaltando que essas discussões se davam em torno de percentuais.

O MP não sabe ainda quanto foi movimentado pelo esquema, tampouco se Costa levou dinheiro pessoalmente. Estima-se que a máfia tenha desviado mais de R$ 1 bilhão.