Título: Mercado altera expectativas para rumo da Selic em 2013
Autor: Pinto , Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2012, Mercado altera expectativas para rumo da Selic em, p. C2

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana acontecerá em um momento em que dados surpreendentemente fracos de atividade tornaram o mercado mais pessimista com a retomada do crescimento econômico, mas também garantiram alívio às projeções de inflação para este ano. Ainda assim, ninguém espera que o parcimonioso Copom altere o passo já - 29 dos 30 economistas ouvidos em levantamento feito pelo Valor Data esperam uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, para 8% ao ano.

Também segue inalterada a estimativa da maioria de que haverá uma nova redução na reunião seguinte, entre 0,25 ponto e 0,5 ponto percentual. Mas já há mudanças de expectativas para o rumo da Selic em 2013. Embora a maioria ainda veja alta de juros no ano que vem, boa parte dos analistas revisou para baixo a projeção, a despeito das estimativas de inflação ainda estarem acima do centro da meta.

Dos 26 entrevistados que participaram do levantamento para a reunião de maio, 15 reduziram a estimativa para o nível da Selic no fim de 2013. Agora, do grupo ouvido na pesquisa deste mês, ninguém vê a Selic retomar o nível de dois dígitos até o próximo ano. E apenas seis esperam uma taxa superior a 9%.

O economista que fez o ajuste mais intenso da projeção para a Selic em 2013, Luis Otavio de Souza Leal, do banco ABC Brasil, contempla a possibilidade de estabilidade bem prolongada da taxa em 8% ao ano. O analista não descarta Selic a 8% até dezembro de 2013 por considerar que o BC tem a tendência de ser muito fiel às suas afirmações, especialmente quando ocorre algum curto-circuito na sua comunicação. E isso vem ocorrendo, segundo Leal.

"Uma análise fria dos dados mostra que o BC tem espaço para cortar mais a Selic neste ano, mas o próprio [Alexandre] Tombini [presidente da instituição] tem indicado em entrevistas e nos documentos do BC que a autoridade monetária já cortou bastante o juro. Foram 4 pontos percentuais, com alta probabilidade de avançar a 4,5 pontos", afirma o economista.

No BES Investment, a previsão para a Selic no fim de 2013 foi reduzida de 9,5% para 9%, ao mesmo tempo em que a estimativa para a reunião de agosto também foi alterada, de estabilidade para um corte de 0,5 ponto. Segundo Flavio Serrano, economista sênior da instituição, esse ajuste se deve à percepção de que o governo usará o instrumento que tiver para fazer frente à fraca atividade industrial. "O governo está tentando manter o dólar perto de R$ 2,00, para dar incentivo à indústria, e reduzir mais os juros certamente fará parte desse esforço", afirma Serrano. "Se o BC terá de ir mais longe no curte de juros, é natural que ele também demore mais tempo para reverter esse movimento."

Serrano, que estima uma alta do IPCA de 4,90% em 2012 e de 5,80% em 2013, acredita que o ciclo de aperto monetário será retomado em agosto do ano que vem, quando a inflação voltar a acender um sinal amarelo. No cenário anterior, o economista contava com aumento de juros já no segundo trimestre. "A inflação está cedendo neste ano por fatores específicos, como sazonalidade e também por cortes de impostos", diz, observando que, além desses fatores não estarem presentes no segundo semestre, a economia estará sob efeitos defasados dos estímulos concedidos. Dessa forma, a inflação anualizada, que deve girar entre 4,5% e 5% nos próximos meses, deve se aproximar dos 5,5% no terceiro trimestre. "Será uma situação semelhante à de 2011, quando a inflação não foi explosiva, mas, ainda assim, era preocupante", diz.

O desempenho da indústria corrobora a continuidade da flexibilização da política monetária com parcimônia, ou seja, de redução da Selic em 0,5 ponto percentual. O cenário referencial do economista-chefe da PlannerProsper, Eduardo Velho, é de probabilidade de uma redução da Selic até 7,5% na reunião de agosto, mas ele pondera que a chance de a taxa cair a 7,25% subiu a 40% em função do prolongamento da crise internacional e números ainda fracos da atividade econômica interna.

O recuo das previsões para o IPCA em 2013 - de 5,2% para 5% no cenário de referência do BC, e de 5,3% para 4,9% no de mercado - foi um dos fatores que levaram o economista a cogitar a possibilidade de a Selic ser inferior a 7,5% no fim do ano. Um segundo fator é a revisão da expectativa de crescimento econômico pelo BC, de 3,5% para 2,5% este ano, e um terceiro fator refere-se às recentes revisões para baixo de crescimento de economias maduras e emergentes.

"A projeção de crescimento de 2,5% feita pelo BC apenas ratifica que o Brasil mantém taxa de expansão abaixo do potencial, reduzindo as pressões inflacionárias. Nessa mesma linha, o grau de utilização da capacidade instalada estaria se estabilizando em patamar inferior à sua tendência de longo prazo, da mesma forma que reduziram os riscos de pressão de custos sobre os preços referente ao descompasso no mercado de trabalho e aos mecanismos de indexação salarial", explica Velho.

Apesar dos prognósticos decepcionantes da maioria do mercado para o PIB deste ano, o Citibank Brasil vê recuperação importante da atividade à frente, que tende a levar a um rebalanceamento do juro neutro no país. "Trabalhamos com a perspectiva da economia crescendo por quatro trimestres, a partir do terceiro deste ano, acima do PIB potencial. Portanto, em algum momento do ano que vem, o BC deverá retirar os estímulos monetários, elevando a Selic. Hoje, projetamos a taxa básica do final de 2013 em 9,25%", diz Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi.

Na avaliação do economista, as indicações dadas pelo próprio governo de que a crise externa tem efeitos mais fortes no Brasil do que o calculado há alguns meses não confronta a expectativa de que a economia brasileira vai reagir.

"O crédito pode não estar crescendo como o governo esperava, mas em dois ou três meses os bancos deverão ter "limpado" suas carteiras de créditos problemáticos, representados por financiamentos à aquisição de veículos contratados em 2010. Isso abre espaço para aumento das operações que já estão aumentando. Considerando que os financiamentos de carros representam 70% das vendas totais, que cresceram 40% em junho, é possível estimar que esse nicho de crédito está se fortalecendo. Além disso, as operações vão bem com a linha branca desde o estímulo tributário do governo no fim do ano passado", diz Kfoury.