Título: Estatais acirram guerra política
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2010, Economia, p. 15

Com orçamento gigantesco de R$ 107,5 bilhões em 2011, as empresas do governo são mais cobiçadas até mesmo que os ministérios

Mais do que um assento em um dos prédios da Esplanada dos Ministérios, são as estatais federais o principal alvo dos políticos da base que dará sustentação ao governo de Dilma Rousseff. Com os cofres abarrotados e obras vistosas que poderão render uma penca de votos, as empresas lideram o rateio nas listas de cargos preparadas pelos partidos com destaque para o PT e o PMDB, certos de que sairão como grandes vencedores no processo de barganha. Pela proposta orçamentária de 2011, em análise no Congresso, as companhias deverão investir R$ 107,5 bilhões valor sem precedentes para um único ano e 13,3% superior ao total a ser desembolsado em 2010 (R$ 94,9 bilhões).

O apetite dos políticos envolve 73 empresas controladas diretamente pela União. Quando incluídas as subsidiárias das estatais, esse número sobe para 102. Como, em média, as companhias têm seis cargos executivos, pelo menos 612 postos poderão ser preenchidos por apadrinhados dos partidos que apoiam Dilma.

Os salários não são de se jogar fora: passam, na maioria dos casos, de R$ 20 mil por mês quase o dobro do pago a ministros de Estado (R$ 10.748).

É impressionante como a grande maioria das pessoas só comenta sobre a divisão dos ministérios entre os políticos. Mas é nas empresas estatais que eles fazem a festa. É nelas que estão os grandes salários e os bônus, diz um técnico do Ministério do Planejamento.

As joias mais cobiçadas são a Petrobras, a Eletrobras, os Correios, o Banco do Brasil, a Infraero e a Caixa Econômica Federal, que, juntas, respondem por mais de 95% dos investimentos estatais. Mas há, também, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se transformou em uma máquina de liberar dinheiro, e o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa), que dão imensa visibilidade a políticos onde lhes interessa em suas bases de votação.

Pode esperar: veremos uma guerra fratricida pelas estatais. Mas tomara que, depois de tantos escândalos de corrupção, desta vez, o preenchimento dos cargos leve em consideração aspectos técnicos, não apenas políticos, afirma um funcionário do Tesouro Nacional, teoricamente, o órgão que controla as empresas.

Vale-tudo Na Petrobras, se prevalecer o pedido do governador reeleito da Bahia pelo PT, Jaques Wagner, o atual presidente, José Sergio Gabrielli, permanecerá no posto pelos próximos dois anos. A estratégia é mantê-lo com grande visibilidade na mídia e, depois, transferi-lo para o secretariado de Wagner e impulsioná-lo à sucessão do governador em 2014. Mas nada garante que essa estratégia prevalecerá, devido à gula do PMDB pela companhia.

O partido, porém, pode ser compensado com as diretorias de Abastecimento e de Exploração e Produção, consideradas a mais poderosas da petrolífera. Hoje, as duas são ocupadas, respectivamente, por Paulo Roberto Costa, da cota peemedebista, e Guilherme Estrella, protegido do PT.

No Banco do Brasil, onde a presidência e as nove vices estão à disposição de Dilma para entrar no tabuleiro político, todos os atuais ocupantes desses cargos dão como encerradas as missões em 31 de dezembro próximo. Aldemir Bendini, o presidente da instituição, inclusive, já estaria pavimentando a sua saída para entrar na equipe de transição de governo e, dessa forma, garantir um outro posto a partir de janeiro, como, por exemplo, a presidência da Vale, substituindo Roger Agnelli por meio de uma composição entre os fundos de pensão de estatais e o Bradesco. Ele está confiante de que não ficará a ver navios, pois foi nomeado para o comando do BB dentro da cota pessoal do presidente Lula.

Já dos seus vices, apenas um veio de fora do banco: Luís Carlos Guedes, que se diz protegido tanto pelo PT quanto pelo PMDB. Os demais são funcionários de carreira.

Os peemedebistas também almejam a presidência da Caixa, hoje entregue à petista Maria Fernanda Ramos Coelho. O nome mais cotado para sucedê-la é o de Moreira Franco, que, em abril deste ano, deixou uma das vice-presidências do banco para trabalhar no programa do PMDB entregue a Dilma. Mas Moreira acha que merece mais: o Ministério das Cidades, responsável pelas obras de habitação e saneamento contidas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para o comando do Banco do Nordeste (BNB) deve ir um indicado dos irmãos Ciro e Cid Gomes. As diretorias do Basa devem ser preenchidas por afilhados do senador Alfredo Nascimento (PR), ex-ministro dos Transportes, e de Vanessa Grazziotin (PCdoB), eleita senadora pelo Amazonas.

Cofres cheios Companhias terão 13,3% a mais para investir no ano que vem (Em R$ bilhões) Petrobras - 91,2

Eletrobras - 8,2

Infraero - 2,2

Banco do Brasil - 2,2

Caixa - 0,9

Outras - 2,8

Fonte: Proposta de Orçamento em análise no Congresso

Alavanca do Ibovespa

A forte valorização dos papéis da Petrobras puxou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo, que, por sua, vez acompanhou a reação dos centros financeiros internacionais ao novo pacote de estímulo do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos).

O principal índice das ações brasileiras, o Ibovespa, fechou com alta de 0,48%, a 71.904 pontos, e um volume financeiro de R$ 7,27 bilhões. As ações preferenciais (com prioridade no pagamento de dividendos) da estatal saltaram 2,47%, fechando a R$ 27, enquanto as ordinárias (com direito a voto) subiram 1,17%, paraR$ 29,47. A recuperação deveu-se, em parte, ao relatório do banco BTG Pactual, que recomendou a compra das ações com preço-alvo de US$ 46 para o recibo negociado nos Estados Unidos.

Na última segunda-feira, a instituição financeira incluiu a Petrobras na carteira de indicações pela primeira vez no ano, citando o desenvolvimento das áreas do pré-sal na Bacia de Campos e possíveis revisões de lucros com a valorização do real.