Título: Uso de capacidade industrial cai para 80,7%
Autor: Marchesini , Lucas
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2012, Brasil, p. A4

O nível de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira caiu para 80,7% em maio, menor nível desde setembro de 2009 (80,6%), de acordo com a pesquisa Indicadores Industriais, divulgada ontem, em Brasília, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em maio do ano passado, a indústria havia usado 82,5% da capacidade instalada. Em abril deste ano, o índice chegou a 81%.

Entre janeiro e maio de 2012. ano, o indicador apontou recuo de 1,4 ponto percentual. No período, o nível de emprego teve queda de 0,6 ponto, saindo de 113,1 pontos para 112,5 pontos.

"O primeiro semestre foi perdido para a indústria", disse Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de políticas econômicas da CNI, após apresentar os resultados do setor, em Brasília. "Apesar de termos dados disponíveis só até maio, já podemos falar que foi um semestre negativo, de frustração."

Com base nesse desempenho, CNI deverá revisar para baixo, na próxima semana, suas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e para a produção industrial. Atualmente, a entidade projeta, para 2012, alta de 3% para o PIB e de 2% para o setor. Segundo Castelo Branco, as novas estimativas devem ficar bem abaixo das atuais.

Por outro lado, a pesquisa mostra que o total de horas trabalhadas aumentou 0,2 ponto no acumulado de 2012 até maio, de 106,4 para 106,6, e o faturamento real cresceu 2,8 pontos no período, passando de 112,1 pontos para 124,9 pontos. Os números são dessazonalizados.

Castelo Branco explicou que o crescimento do faturamento, apesar do semestre ruim, se deve à diminuição dos estoques. Segundo ele, as vendas aumentaram, mas não a produção, devido ao alto volume de produtos acumulados pela indústria.

Para ele, uma retomada da produção industrial brasileira ocorreria a partir da redução mais intensa dos estoques, o que contribuiria para diminuir a ociosidade das fábricas. Um crescimento no investimento público para acelerar a economia também seria necessário. "Os investimentos sempre acabam refletindo na cadeia produtiva da indústria", disse o gerente-executivo da entidade.

A CNI avaliou ainda que as medidas relativas a crédito e expansão do consumo já anunciadas terão impacto limitado. "A demanda doméstica dá sinais de arrefecimento e o comprometimento da renda e a inadimplência diminuem o alcance das mudanças", afirmou o economista.

A mudança no patamar do câmbio, apesar de positiva, também tem pouco efeito prático no curto prazo, na avaliação da entidade. "A mudança no câmbio não compensa todos os outros custos que temos", avalia Castelo Branco.