Título: Juro cai ao menor nível desde 2001
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Finanças, p. C1

Favorecidas pela distensão na política monetária promovida pelo Banco Central, as taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras seguiram trajetória de queda. O custo médio dos empréstimos contratados por pessoas físicas e jurídicas diminuiu de 42,2% para 41,8% ao ano entre julho e agosto passados, no sexto mês seguido de redução. É a taxa de juros mais baixa registrada desde dezembro de 2001.

Ao contrário dos meses anteriores, porém, os "spreads" bancários se mantiveram estáveis, em 27,5 pontos percentuais (pp). A queda dos juros cobrados se deve, portanto, exclusivamente à redução dos custos de captação dos bancos, que passou de 14,7% para 14,3% ao ano. A redução dos custos de captação dos bancos, por sua vez, deve-se ao afrouxamento da política monetária. Em agosto, o BC cortou de 14,75% para 14,25% ao ano os juros básicos.

Normalmente, a queda dos juros básicos é acompanhada de reduções no "spread" bancário, ainda que essa relação seja menos do que um para um - ou seja, um corte de um ponto percentual na Selic leva a uma redução menor do que um ponto percentual no "spread" bancário. No atual processo de afrouxamento da política monetária, porém, os "spreads" vêm caindo com algum atraso em relação aos cortes na taxa básica. O BC começou a cortar os juros em setembro de 2005, mas o "spread" só passou a cair a partir de abril. Agora, volta a ficar estacionado, justamente quando a baixa na taxa básica foi maior do que a esperada - o mercado, de forma geral, esperava um corte de 0,25 pp na Selic em agosto, mas a redução acabou sendo de 0,5. De setembro de 2005 a agosto de 2006, os juros básicos caíram 5,5 pp, de 19,75% para 14,25% ao ano, mas o "spread" encolheu apenas 1,9 pp no período.

Em agosto, os juros bancários caíram tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas. No caso das empresas, a taxa média recuou de 28,3% para 27,9% ao ano; mas o "spread" subiu de 13,4 para 13,5 pp. Nos empréstimos às famílias, recuaram tanto os juros, de 54,3% para 53,9% ao ano, quanto o "spread", de 39,7 para 39,6 pp.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, chama a atenção para o fato de que nem todas as linhas de crédito registraram aumento no "spread". No caso das operações prefixadas, algumas subiram e algumas caíram. Mas entre as operações com juros flutuantes, basicamente vinculadas à variação do CDI, houve alta generalizada; será necessário aguardar as próximas informações estatísticas, porém, para definir a tendência desse segmento.

No caso das linhas prefixadas, caíram o "spread" do cheque especial (de 130,4 para 130,1 pp) e do crédito pessoal (45,2 para 44,8 pp). O spread nas operações para a aquisição de veículos subiu (17,8 para 18,5 pp) e, na aquisição de outros bens, ficou estável em 45,1 pp.

Já entre as pessoas jurídicas, houve aumento do "spread" em quatro das sete linhas de crédito com juros prefixadas apresentadas. A alta mais significativa no "spread" foi no "hot money", que passou de 33,5 para 37,1 pp, e a maior redução foi na conta garantida, de 54,1 para 53,4 pp. Houve aumento no "spread" cobrado nas três linhas de crédito com juros flutuantes - capital de giro, conta garantida e aquisição de bens.