Título: CPI convoca Cavendish e Pagot, mas blinda tesoureiro da campanha de Dilma
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2012, Política, p. A8

Pressionada a apresentar resultados e ameaçada de extinção por falta de objetivos, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira decidiu ontem aprovar um pacote de convocações de políticos e empresários com ligações diretas e indiretas ao governo e à oposição. Mas também blindou a ida de pessoas que poderiam expor o PT.

Em votação unânime, foram convocados o ex-presidente da Delta Fernando Cavendish e o ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) Luiz Antonio Pagot. Também entraram na lista Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da autarquia paulista Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), que celebrou contratos com a Delta em São Paulo; e o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), flagrado em vídeo negociando recursos com Carlinhos Cachoeira para sua campanha.

Entraram no rol ainda Adir Assad, apontado como controlador de empresas laranjas ligadas à Delta em São Paulo; e Andreia Aprigio, ex-mulher de Cachoeira. A CPI convidou o juiz federal Paulo Moreira Lima a comparecer à CPI. Ele desistiu de julgar o caso alegando ter sofrido ameaças.

Por outro lado, os governistas se uniram para impedir a convocação do deputado federal José di Filippi (PT-SP), tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2010. A oposição defendia sua convocação pelo fato de Pagot ter declarado que, nas eleições de 2010, o petista lhe pedira uma lista com empresas que tinham contratos com o Dnit. O objetivo era pedir recursos para a campanha.

"Não há imputação a ele de prática de crime. Se o Pagot vier e imputar práticas de crimes em relação a ele, nós vamos analisar. Não estamos aqui investigando caixas de campanha. Estamos investigando uma organização criminosa que tem tentáculos em diversos Estados deste país", disse o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), sobre a rejeição à convocação de Filippi.

A oposição protestou. "Pagot faz uma referência que é absolutamente indicativa de possibilidade de crime. É crime de improbidade administrativa, sim: solicitar que uma autoridade que autoriza despesa, que autoriza empenho, que trabalha com o dinheiro público, indique nomes e empresas para contribuírem para campanha", disse o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG).

O requerimento para convocar Filippi acabou sendo rejeitado por 17 votos a 12. A oposição contou com votos da base, como dos senadores Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e Pedro Taques (PDT-MT) e do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Os governistas também conseguiram impedir a convocação dos empresários José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado. Eles eram donos da Sigma Engenharia, empresa que foi comprada pela Delta. Durante a transação, eles se desentenderam com Cavendish e afirmaram à revista "Veja" que o ex-dono da Delta contratou a empresa de consultoria do ex-ministro José Dirceu para aproximá-lo do governo e do PT. Para o senador José Pimentel (PT-CE), a convocação agora poderia desviar o foco da CPI. "Se chegarmos à Sigma, que eu acredito que vamos chegar, vamos convocar os dois. Mas nossa posição hoje é não aprovar e adiar", disse.

Nesse caso, o placar foi mais apertado: 15 a 12. Da base, votaram a favor da convocação os senadores Pedro Taques, Ricardo Ferraço, Sérgio Souza (PMDB-PR); e dos deputados Iracema Portella (PP-PI), Maurício Quintella Lessa (PR-AL, Sílvio Costa (PTB-PE) e Miro Teixeira.