Título: Lula e Dilma partem para a briga no G-20
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2010, Economia, p. 16

Na primeira entrevista coletiva após as eleições, o presidente e sua sucessora garantem que vão lutar pelo fim da guerra cambial no encontro de líderes na semana que vem

A reunião dos chefes de Estado e de governo do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), marcada para a próxima semana em Seul, na Coreia do Sul, será palco para um novo conflito em torno da guerra cambial, a depender da disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua sucessora a partir de 2011, Dilma Rousseff. No primeiro pronunciamento oficial após as eleições, Lula garantiu que ele e Dilma estão dispostos a brigar no fórum internacional por uma solução que reduza a supervalorização do real frente ao dólar, além de tomar todas as medidas necessárias para conseguir esse objetivo. Ontem, a divisa norte-americana manteve a trajetória de queda das últimas semanas e fechou em baixa de 0,40%, cotada a R$ 1,701 para venda.

O atual ocupante do Palácio do Planalto voltou a responsabilizar os Estados Unidos e a China pelos desequilíbrios cambiais no mercado internacional, ao afirmar que as distorções são resultado da tentativa norte-americana de se recuperar do deficit fiscal e da insistência chinesa em manter sua moeda subvalorizada. Dilma, por sua vez, voltou a defender uma solução coordenada com outros governos, como vem pregando o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Todos os países já perceberam que há uma guerra cambial em curso e, numa situação dessas, não há soluções individuais que funcionem, considerou a presidente eleita.

Chegar a uma resolução conjunta não será fácil, principalmente por causa da pouca disposição dos protagonistas da batalha em encontrá-la, segundo avaliação de Maurício Molan, economista do Banco Santander.

Os Estados Unidos olham para os chineses e acreditam que eles estão deixando o iuan artificialmente baixo. Na ponta contrária, a China acha que os norte-americanos estão mantendo, de forma fictícia, uma taxa de juros expansionista, comentou. Para ele, há uma forte preocupação mundial com o agravamento da crise cambial. Mas, ao mesmo tempo, todos os países estão tentando recuperar suas próprias economias, o que dificulta o diálogo. O que ocorre é resultado de um grande excesso de poupança mundial, aliado a uma falta generalizada de consumo. O que todos querem é impulsionar sua recuperação utilizando o mercado dos outros, avaliou.

Acordo possível

É justamente nesse ponto que o Brasil é prejudicado e, por isso, o governo tenta conter, a qualquer custo, uma valorização ainda maior do real. Com a moeda fortalecida em relação às demais divisas e um amplo mercado doméstico consumidor, o país virou alvo de importações após a recessão. Por um lado, é positivo, porque você pode trazer máquinas e equipamentos e também aumenta a disciplina sobre os preços de produtos fabricados aqui. Entretanto, há uma disputa entre setores, afirmou. Enquanto o segmento industrial voltado para o público interno tem, durante o período de dólar barato, mais facilidade em investir, os produtores de bens dedicados à exportação saem perdendo.

Para Molan, a chance de a reunião do G-20 levar os governantes a baixarem suas armas, encontrando uma saída comum para a questão, pode aumentar se a China retomar o processo de valorização de sua divisa, o iuan. Isso já estava acontecendo, mas foi interrompido com a crise. Os chineses estavam aumentando o valor de sua moeda em uma taxa média de 10% ao ano, lembrou.

O economista acredita que, ao demonstrar disposição em retomar a política de alta mais acelerada do iuan, os chineses estimulariam outros países a adotarem posturas menos protecionistas e a trabalharem para uma valorização do dólar em âmbito mundial.

Superavit comercial

A balança comercial brasileira registrou superavit de US$ 1,854 bilhão em outubro, num crescimento de 40,9% em comparação com o de igual período de 2009 (US$ 1,316 bilhão). O saldo foi resultado de exportações de US$ 18,381 bilhões e de importações de US$ 16,527 bilhões. Pela média por dia útil, critério mais utilizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas externas subiram 37,1%, enquanto as compras aumentaram 35,9%.

No ano, o saldo positivo acumulado é de US$ 14,627 bilhões, com exportações de US$ 163,310 bilhões e importações de US$ 148,683 bilhões. Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o governo vai adotar outras iniciativas para aumentar a competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional, apesar do prejuízo causado pelo real valorizado diante do dólar. Esse desequilíbrio cambial facilita as compras externas e dificulta as vendas.

Vamos continuar trabalhando, mas as medidas em implementação resolvem problemas pontuais. A logística também precisa ser atualizada. Hoje, existe uma sobrecarga. Além disso, temos que melhorar a questão tributária, disse Barral. O Eximbank, braço do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que vai financiar as exportações brasileiras, deve ser criado ainda neste ano.