Título: Ex-presidente da Valec é preso pela PF
Autor: Magro , Maíra
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2012, Política, p. A9

A Polícia Federal prendeu ontem, em Goiânia, o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha. A prisão temporária, que pode durar até cinco dias, foi motivada por uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) de Goiás por suspeita de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva.

Na operação, denominada "Trem Pagador", também foram presos temporariamente a mulher de Juquinha e dois de seus filhos, por suspeita de participação na ocultação de bens obtidos com o superfaturamento de obras públicas. Para o MPF, eles teriam atuado como laranjas do ex-presidente da Valec. Mais de R$ 60 milhões já foram apreendidos na operação. Procurado pelo Valor, o advogado de Juquinha, Heli Dourado, não respondeu as ligações.

Juquinha perdeu o cargo de presidente da Valec em julho de 2011, na esteira de denúncias de superfaturamento e cobrança de propina em obras do Ministério dos Transportes - pasta à qual a empresa, responsável pelas ferrovias federais do país, está vinculada. Os escândalos de corrupção derrubaram a cúpula do Ministério dos Transportes há um ano.

Só o MPF em Goiás abriu mais de meia dúzia de inquéritos para investigar contratos da Ferrovia Norte-Sul no Estado. Segundo o procurador da República Helio Telho, que atua no caso, perícias já identificaram um superfaturamento de mais de R$ 100 milhões nas obras da ferrovia em Goiás. Um dos inquéritos gerou ação de improbidade administrativa contra Juquinha, na qual o MPF pede a devolução de R$ 20 milhões referentes a contrato com a Contran. Para garantir o pagamento, o MPF fez um levantamento do patrimônio do réu.

"No levantamento, nos deparamos com um patrimônio enorme, incompatível com a renda", diz Telho. De acordo com ele, os bens estavam em nome de Juquinha e, principalmente, seus familiares. A nova investigação foi aberta em agosto de 2011 para identificar esses bens e apurar suposta lavagem de dinheiro. Quando candidato a deputado federal, em 1998, Juquinha declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio inferior a R$ 560 mil, segundo o MPF.

Entre os bens localizados pela operação "Trem Pagador" estão fazendas, lotes, apartamentos e casas no condomínio de Alphaville, em Goiânia - o mesmo onde Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso em 29 de fevereiro (o MPF ressalva que os casos não têm relação). Também foram identificadas empresas criadas exclusivamente para administrar os imóveis. Além das quatro prisões temporárias, sete pessoas foram conduzidas ao MPF para prestar informações na operação e outras nove tiveram suas contas bancárias bloqueadas.

"A novidade dessa operação é o foco", diz o procurador Helio Telho. "O objetivo não foi identificar autoria nem materialidade, mas localizar patrimônio, laranjas e, sobretudo, bloquear bens para evitar que desapareçam, estrangulando financeiramente a organização". De acordo com ele, as prisões temporárias tiveram como objetivo tomar depoimentos e evitar a ocultação dos bens prestes a serem bloqueados. "Detectamos tentativas anteriores de esconder bens", afirma. A conclusão das perícias deve levar 120 dias e, depois disso, o MPF poderá ajuizar uma ação criminal contra os investigados.