Título: Bancos médios captam US$ 1,3 bi
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2006, Finanças, p. C10

O total obtido pelos bancos pequenos e médios de capital nacional já representa 41% das captações externas de empresas financeiras instaladas no país. Neste ano, os recursos conseguidos no mercado internacional por essas instituições já chega a US$ 1,3 bilhão, um recorde histórico que passou o US$ 1,275 bilhão obtido em todo o ano passado, segundo o Valor Data.

Em 2001 e 2002, o mercado externo se fechou completamente para os bancos pequenos e médios brasileiros. Mas, desde 2003, os investidores internacionais têm se mantido uma fonte cada vez mais importante de recursos para essas instituições financeiras. A crise de liquidez decorrente da quebra do Banco Santos, em novembro de 2004, não alterou o quadro. Em 2003, foram levantados US$ 194 milhões pelos bancos médios, em relação aos US$ 423 milhões de 2004 e o US$ 1,275 bilhão em 2005.

"Vivemos uma nova grande onda de captação externa de bancos pequenos e médios brasileiros", diz Glenn Peebles, responsável pela área de finanças corporativas e originação do Dresdner Kleinwort Wasserstein, que tem liderado operações para essas instituições. Segundo ele, no início dessa onda, eram as pessoas físicas dos fundos de private banking que se interessavam pelos títulos das instituições pequenas e médias do país. Agora, cada vez mais fundos de hedge, bancos e outros investidores institucionais buscam os papéis. Recentemente, o Goldman Sachs comprou US$ 15 milhões em título do BMC para sua carteira. "O interesse dos investidores asiáticos é crescente", afirma Peebles.

Os rendimentos mais altos são um importante atrativo para o investidor. O Cruzeiro do Sul, por exemplo, levantou US$ 125 milhões pelo prazo de cinco anos e pagou juros de 9,375% ao ano. Um banco grande, como o Banco Votorantim (o décimo maior do país em ativos), obteve US$ 200 milhões por dez anos pagando rendimento de 6,75% ao ano.

Com mais investidores interessados, os valores das captações cresceram. No ano passado, só o BMG conseguiu obter mais de US$ 100 milhões em uma só vez. Neste ano, se juntaram ao ainda seleto grupo o Cruzeiro do Sul, o Mercantil do Brasil e o BicBanco.

O valor médio das captações subiu de pouco menos de US$ 40 milhões para quase US$ 47 milhões. O prazo de vencimento se ampliou. Das 32 operações realizadas em 2005, apenas três tinham prazo de vencimento acima de três anos. Neste ano, das 28 operações realizadas, sete têm essa característica. "Os investidores apostam que o Brasil vai virar grau de investimento em breve e esperam ter um ganho de capital com os títulos de longo prazo comprados agora", diz Peebles.

O interesse dos investidores cresceu tanto que eles passaram a aceitar maior risco e os bancos pequenos e médios começaram neste ano a emitir títulos de dívida subordinada, que entra como capital no balanço da instituição financeira. O Panamericano foi o pioneiro, com operação de US$ 125 milhões no total, seguido pelos US$ 120 milhões do BicBanco, US$ 30 milhões do Banco Modal (com a surpreendente taxa de 2% ao ano por seis anos) e agora no mínimo US$ 50 milhões do Banco Schahin à venda no mercado.

Os bancos médios e pequenos passaram a captar mais, e os grandes, a captar menos, por causa da impossibilidade de ganhos com a diferença entre as taxas internas de juros e as taxas externas, a chamada arbitragem. O resultado é que a participação das captações dos bancos de menor tamanho no total veio em um crescente: de 2% em 2003, passou para 11% em 2004, 20% em 2005, chegando agora a 41%.

Diferentemente dos bancos maiores, os bancos médios se voltam hoje ao mercado externo principalmente para obter recursos para o crédito, com destaque para o consignado com desconto em folha, mas incluindo outras operações para pessoas físicas e para pequenas e médias empresas. Embora mais cara que uma captação em reais via Certificado de Depósito Bancário (CDB), a captação externa é mais adequada para repasse ao crédito de mais longo prazo, pois possui prazos mais longos de vencimento, explica Luis Octavio Indio da Costa, do Banco Cruzeiro do Sul.

Costa conta que o CDB do banco, que, diferente dos demais não tem liquidez diária, custa cerca de 106% dos juros dos Depósitos Interfinanceiros (DI) ao banco. Uma captação externa, após feita a troca de indexadores do dólar para o real (swap), sai por cerca de 114% do DI. Já os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), outra importante fonte de captação para os bancos médios, é mais caro ainda que a captação externa: 118% do DI. Ele preferiu não revelar números, mas afirma que a cessão de crédito a outras instituições financeiras é ainda mais cara que o FIDC.

"O nosso objetivo é captar mais no exterior e manter mais ativos em nossa carteira própria, cedendo menos a outros bancos, pois isso é mais rentável", diz Costa. Hoje, da carteira de R$ 2,3 bilhões, R$ 800 milhões foram cedidos a outras instituições, como o Bradesco, GE e Cetelem. Ele lembra que o crédito consignado, por ter risco pulverizado, ocupa pouco espaço no balanço dos bancos para efeitos do Basiléia 2.