Título: Auxílio extra de US$ 600 bi
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2010, Economia, p. 17

O Federal Reserve anuncia megainjeção de recursos no mercado, por meio da compra de títulos de longo prazo, para incentivar a fraca recuperação econômica nos Estados Unidos. Investidores sugerem que o governo brasileiro espere para ver os resultados

A decisão do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) de injetar mais US$ 600 bilhões na economia até o segundo semestre de 2011 ficou dentro das expectativas dos investidores, cujas previsões sinalizavam entre US$ 600 bilhões e US$ 1 trilhão. Anunciada ontem, a medida vai ser concretizada pela compra de títulos do Tesouro de longo prazo. Ela aliviou a tensão do governo brasileiro, que já se preparava para acelerar a compra de reservas ou tomar atitudes ainda mais drásticas com o objetivo de conter a desvalorização do dólar.

Como a tão aguardada reunião do Fed não trouxe novidades significativas, os analistas assinalam que, agora, o mais sensato é acompanhar o comportamento dos mercados internacionais. E esperar a reunião do G-20 (20 maiores economias do mundo), no dia 11. Nenhuma grande medida deve ser tomada até lá. O Brasil sabe que não dá para olhar só para o próprio umbigo. Se precisar mexer no câmbio, talvez seja por meio de swap cambial reverso (compra de dólares no mercado futuro), afirmou Álvaro Bandeira, economista-chefe da Corretora Ágora.

Porém, a enxurrada de dólares vai aumentar nos países emergentes. O Brasil se torna cada vez mais atraente ao capital estrangeiro de curto prazo, porque os juros norte-americanos se mantêm em níveis historicamente baixos e os nossos, em 10,75% ao ano. O momento certo para lançar mão do swap cambial reverso ou de outro mecanismo de controle vai depender do nível de desconforto do Banco Central com o preço do dólar. Mas o governo já demonstrou que fica muito incomodado quando chega entre R$ 1,600 e R$ 1,650, destacou Mário Paiva, da BGC Liquidez.

Prejuízo

Nem sempre o que é bom para o mercado financeiro é bom para o setor produtivo, disse Carlos Manuel Pereira, da Consultoria Lopes & Filho. Ele lembrou que o governo já aumentou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos em renda fixa. O resultado foi abaixo do esperado, disse, e os exportadores continuam no prejuízo. O governo pode estipular uma quarentena, determinar o prazo mínimo para o dinheiro permanecer aqui. Isso já foi muito usado em vários países emergentes.

O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, se mostrou preocupado com a decisão do Fed de aliviar ainda mais a política monetária nos Estados Unidos por meio de compras adicionais de títulos do governo. São políticas que empobrecem os vizinhos e acabam gerando medidas de retaliação. Aí, você tem esse câncer que é o protecionismo, que tem uma metástase muito rápida, afirmou.

BOLSAS APROVAM

O mercado acionário se animou, ontem, com a iniciativa do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) de aumentar o volume de dinheiro em circulação na economia dos Estados Unidos em US$ 600 bilhões, num ritmo de US$ 75 bilhões mensais. Também contribuiu o bom desempenho das ações da Petrobras. Depois de algumas oscilações, o Ibovespa, o índice mais negociado na BM&FBovespa, fechou em alta de 0,48%, aos 71.904 pontos. Da mesma forma, o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 0,24% com o anúncio do Fed, apesar de notícias ruins sobre a recuperação da economia do país e do alto nível de desemprego.

Na Europa, ao contrário, as bolsas de valores, que encerraram os trabalhos mais cedo, fecharam em baixa, ante o temor de o Fed injetar menos recursos que o esperado. Em Londres, a bolsa recuou 0,15%. Em Frankfurt, a queda foi de 0,55%. Paris perdeu 0,59%. Milão se desvalorizou 1,01%. Madri despencou 1,79%. E Lisboa retrocedeu 0,64%. Na Ásia, pelos mesmos motivos, as bolsas tiveram comportamentos diversos. A de Tóquio subiu 0,06%, a de Hong Kong avançou 2% e a de Xangai caiu 0,47%. (VB)