Título: BCE põe juro da zona do euro no menor nível
Autor: Newswires,Dow Jones
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2012, Finanças, p. C3

O Banco Central Europeu (BCE) reduziu a taxa básica de juros da zona do euro de 1% para 0,75% ao ano, recorde de baixa para região, como já esperado pelo mercado.

A taxa que a instituição mantém com bancos comerciais ("marginal lending facility") - com objetivo de manter liquidez no curto prazo - caiu de 1,75% para 1,5%, e a taxa de depósito ("deposit facility") saiu de 0,25% para zero.

Após a decisão, o presidente do BCE, Mario Draghi, admitiu que os riscos de baixa para a perspectiva de crescimento se materializaram. Ele avaliou que a expansão econômica tem sido prejudicada pelas tensões relacionadas com a dívida na zona do euro, as condições de crédito, os ajustes nos balanços contábeis e o desemprego elevado.

Draghi disse ainda que as pressões inflacionárias no horizonte da política monetária diminuíram e que o ritmo subjacente da expansão monetária segue contido. As expectativas de inflação, afirmou, continuam firmemente ancoradas, e o índice de preços deve continuar cedendo no decorrer de 2012 e cair para menos de 2% no início de 2013.

A decisão do BCE, de reduzir em 0,25 ponto percentual as taxas de juros da região, foi unânime, segundo Draghi.

Draghi também reconheceu que a crise da dívida na zona do euro levou a uma desaceleração econômica generalizada, atingindo até mesmo os países mais fortes da região. Draghi afirmou que o temor do BCE de arrefecimento mais amplo na região materializou-se, justificando a decisão unânime entre os integrantes do conselho da autoridade monetária de reduzir a taxa básica de juros para 0,75%.

"Podemos genuinamente dizer que essa medida se dirige a toda a zona do euro, e não apenas para alguns países específicos", disse Draghi. Ele apontou que o efeito total das injeções expressivas de liquidez do BCE no sistema bancário ainda serão sentidos, mas alertou que o "o crédito hoje é predominantemente liderado pela demanda, e se a demanda está fraca, não se deve esperar um crescimento forte do crédito".

Pela primeira vez, Draghi falou publicamente sobre as consequências para o BCE da reunião de cúpula da União Europeia na semana passada, na qual os líderes decidiram criar um órgão de supervisão único para os bancos da zona do euro. A maior parte dos analistas aponta que a forma mais fácil de se conseguir isso dentro do arcabouço do atual tratado da União Europeia é deixar que o BCE faça esse trabalho.

"Novas tarefas exigirão níveis mais altos de responsabilidade democrática", disse ele. Embora tenha destacado que a Comissão Europeia e o conselho ainda tenham de apresentar os planos detalhados, ele fez uma lista de princípios que precisam ser respeitados. "Quaisquer novas obrigações da área de supervisão devem ser rigorosamente separadas das tarefas de política monetária", afirmou. "Não deve haver contaminação entre essas duas áreas."

Draghi afirmou ainda que o BCE nem mesmo discutiu a possibilidade de novas medidas "fora do padrão", como operações de refinanciamento ultra-longas adicionais ou compras de bônus do governo. "Não existe a sensação de que estamos esgotando as opções de política - ainda temos toda a nossa artilharia para perseguir o objetivo da estabilidade de preços."

Draghi assegurou que não houve ação coordenada com outros bancos centrais "além da troca de pontos de vista que normalmente ocorre sobre o estado do ciclo de negócios, o estado da economia e o da demanda global". O Banco da Inglaterra (BoE) e o Banco Popular da China também anunciaram medidas de estímulo monetário ontem.

O aumento do programa de compra de ativos anunciado pelo BoE - em 50 bilhões de libras - é um reflexo da diminuição dos receios ligados à inflação e da preocupação com o crescimento econômico do Reino Unido, avaliou a consultoria britânica Capital Economics, que "duvida" que este seja o último afrouxamento monetário na região.

"A decisão de aumento do programa já era esperada, a questão era em relação ao montante. A alta de 50 bilhões de libras está em linha com a nossa previsão e as compras serão divididas ao longo de quatro meses, na tentativa de sincronizar a medida com a divulgação do relatório de inflação", diz a Capital Economics.

A consultoria acredita que a votação não foi unânime.