Título: Vice ganha importância na disputa em MG
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Política, p. A7

Os mineiros devem reeleger neste domingo o governador Aécio Neves (PSDB), conforme apontam as pesquisas. Mas é a Antônio Augusto Anastasia, um advogado especialista em direito administrativo, que os eleitores de Minas vão entregar, por pelo menos um ano, o governo do Estado. Será do vice-governador - o "técnico" que Aécio fez questão de impor à coligação que o apóia - a missão de dar continuidade à gestão se tudo sair como espera o neto de Tancredo Neves. Ou seja, se ele for mesmo disputar a Presidência da República em 2010.

Anastasia - professor Anastasia, como prefere sem chamado - é um dos principais assessores de Aécio, responsável pelo Choque de Gestão, o programa de ajuste fiscal que é carro-chefe no marketing eleitoral do governador tucano. Ele começou como secretário estadual de Planejamento e acabou acumulando também a pasta da Defesa Social. Se a competência como gestor já eram reconhecidas, o talento para político é uma surpresa até para quem conviveu de perto com o ex-secretário.

Até 2005, Augusto Anastasia sequer tinha tido alguma filiação partidária. Costumava reagir com irritação quando alguém brincava sobre um possível futuro como vice de Aécio. Mas acabou não resistindo aos argumentos do chefe. Como vice na chapa da coligação "Minas não pode parar", ele não segue o script convencional dos vices, geralmente coadjuvantes com direito a falas curtas nas campanhas.

O professor Anastasia tem direito a uma agenda própria de carreatas e comícios pelo interior do Estado, bem distinta da agenda de Aécio. Só ontem, pretendia visitar cinco cidades. Segundo os assessores, terá visitado 41 municípios mineiros até o fim da semana. Também é dele a tarefa de divulgar o programa de governo do segundo mandato em encontros promovidos por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil ou a Federação das Indústrias de Minas Gerais.

"Nós já conseguimos reequilibrar as finanças do Estado mas não conseguimos realizar todas as necessidades", afirma Anastasia. "O recurso tem de ser gasto de modo melhor, para fazermos mais com menos". Segundo ele, a prioridade do segundo mandato será a qualidade dos gastos públicos.

Na segunda-feira, o candidato a vice convocou a imprensa mineira para denunciar que as propostas do adversário Nilmário Miranda (PT), feitas no horário eleitoral gratuito, jogariam Minas Gerais de volta à bancarrota. O ex-secretário apresentou um estudo técnico mostrando que apenas cinco das promessas do petista - como reduzir o ICMS da energia elétrica ou dobrar o piso salarial dos professores do Estado - representariam um comprometimento orçamentário de R$ 5,2 bilhões, ou 20% da receita. "São promessas irreais", afirma Anastasia. "É necessário seriedade nas propostas dos candidatos ao governo do Estado, para não cair no campo da demagogia".

À medida em que avança a campanha, observam pessoas próximas, o ex-secretário toma gosto pelo exercício da política. Até no discurso, menos técnico. "O Anastasia é uma dessas raras pessoas com habilidades tanto técnicas como políticas, o que é uma surpresa agradabilíssima", diz o secretário-adjunto de Defesa Social, Luís Flávio Sapori, que destacou a habilidade do ex-chefe, quando à frente da pasta, na condução do processo de integração das polícias Civil e Militar no Estado. Embora suas especialidades sejam planejamento e finanças públicas, a avaliação é que Anastasia saiu-se muito bem na área social.

Para Sapori, o advogado tem três características suficientes para garantir seu sucesso como político: profundo conhecimento técnico, grande capacidade gerencial para transformar idéias em ações e aversão à partidarização da máquina pública.

"O Anastasia é uma pessoa bastante completa, com uma visão moderna de desenvolvimento", elogia o presidente da Federação das Indústrias de Minas, Robson Andrade. Segundo o dirigente, o candidato a vice tem uma impressionante capacidade de análise dos fatos que lhe são apresentados e uma admirável disposição para o diálogo. "O governo vai estar em ótimas mãos".

Solteiro, com 45 anos de idade, Antônio Augusto Anastasia tem um currículo respeitado no meio acadêmico. É professor-assistente licenciado da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais e de cursos de pós-graduação da Fundação João Pinheiro, instituição que chegou a presidir.

Tem também uma grande folha de serviços na administração pública. Entre 1991 e 1994, foi secretário-adjunto de planejamento e coordenação-geral do ex-governador de Minas Hélio Garcia. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, ocupou os cargos de secretário-executivo do Ministério do Trabalho e secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Embora tenha participado de outros governos, foi com o tucano Aécio Neves que pela primeira vez encontrou as condições políticas adequadas para colocar em prática suas idéias sobre administração pública. É o que diz quem acompanha há mais tempo a trajetória profissional do professor Anastasia. Se são dele, em grande parte, os méritos técnicos do choque de gestão, cabe ao governador mineiro o mérito por ter apostado nas propostas do especialista em direito administrativo.

Segundo fontes ligadas a Aécio, a grande preocupação do tucano, ao impor o nome de Anastasia como vice, era evitar que, mais à frente, os acertos de sua gestão fossem comprometidos por um político mais interessado em promover os próprios projetos. E justamente no fechamento do mandato, em plena campanha eleitoral. É preciso lembrar que o êxito da administração em Minas, com altos índices de aprovação, seria a principal vitrine de sua campanha presidencial.

Caso não consiga se viabilizar com candidato à Presidência, Aécio deverá deixar o governo de Minas para disputar o Senado. Nas duas hipóteses, ter Anastasia como seu sucessor será bastante útil.

A julgar pelo empenho do ex-secretário na campanha, o provável vice-governador de Minas é hoje alguém disposto a sair definitivamente dos bastidores técnicos da política. O governador Aécio já lhe deu carta-branca para fazer o que for possível em nome da própria popularidade no Estado. Enquanto o vice estiver cuidando com mãos-de-ferro dos projeto estratégicos para o Estado, o governador poderá concentrar-se nas articulações para o seu futuro político.