Título: Compra de dossiê marca debate entre candidatos a governadores
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Política, p. A8

Os escândalos envolvendo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcaram os debates dos candidatos a governos estaduais em todo o país. Na rodada de encontros promovida ontem pela Rede Globo, as irregularidades cometidas por dirigentes do PT foram exploradas pelos postulantes de partidos da oposição ao governo federal.

Em São Paulo, Estado onde eclodiram as denúncias de compra de dossiê por petistas contra políticos tucanos, o debate pelos candidatos ao governo paulista José Serra (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT) foi federalizado.

No início do debate, Serra evitou polemizar com seu principal rival, senador Aloizio Mercadante. Ao fazer uma pergunta sobre corrupção, não quis provocar o petista: seu escolhido foi o candidato Carlos Apolinário, do PDT. Em tom moderado, Serra disse que combateu em toda sua vida pública os desvios de conduta e que quando foi prefeito de São Paulo, durante um ano e três meses, reduziu custos do governo. O postulante do PDT ficou responsável por lembrar o escândalo da compra de um dossiê por petistas contra políticos do PSDB, mas Serra fez apenas um comentário, indireto, aos desvios do PT: "Não dá pra governar com amigos, e sim com gente séria. Podem ser amigos, mas têm de ser sérios", disse.

O senador Aloizio Mercadante usou sua primeira intervenção para falar sobre o episódio e atacar o partido de Serra. "É inaceitável que militantes do PT tenham se envolvido na compra de um dossiê. Mais grave ainda é ver um assessor envolvido", disse, referindo-se ao coordenador de comunicação de sua campanha, Hamilton Lacerda, afastado por envolvimento na compra do dossiê. "Tenho certeza de que a população não aceita esse tipo de ação clandestina". Mercadante pediu apuração dos fatos pela Polícia Federal e disse que nunca "se combateu tanta corrupção". "Sempre disputei de forma limpa, jamais tomei atitude dessa natureza", afirmou.

Em quase todos os momentos, a discussão foi nacionalizada. Os opositores ao PT criticaram, sobretudo, a política econômica. Serra defendeu mudanças "necessárias e que faria se tivesse responsável por isso", ressaltadas também pelo candidato do P-SOL, Plínio de Arruda Sampaio.

O debate teve início às 22h40 e até o fechamento desta edição, às 23h30, o candidato do PMDB, Orestes Quércia, foi um aliado de Mercadante e o ajudou com perguntas que o senador petista usou para atacar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No Rio, o debate entre candidatos ao governo foi marcado por críticas ao governo de Rosinha Matheus. A governadora do Rio apóia o candidato do PMDB, Sérgio Cabral, que lidera as pesquisas de intenção de voto. Com a disputa ainda indefinida - as sondagens revelam um empate técnico entre Denise Frossard (PPS) e Marcelo Crivella (PRB) e a possibilidade de um segundo turno com Cabral - os candidatos apostaram as fichas, na tentativa de conquistar os votos dos eleitores ainda indecisos.

Denise investiu contra Cabral, logo no primeiro bloco, lembrando que o candidato não contribuiu em nada para reverter o quadro de sucateamento da máquina pública, gerado pelos baixos salários do funcionalismo. Cabral revidou ao dizer que acabou com alguns privilégios, como por exemplo, a possibilidade de os deputados se aposentarem com apenas com oito anos de mandato. Cabral acrescentou que a juíza se aposentou com 14 anos de mandato, antes do tempo previsto.

No Recife, acusações mútuas marcaram o início do debate entre os candidatos ao governo de Pernambuco realizado ontem pela TV Globo. Logo na primeira pergunta, Humberto Costa (PT) e Mendonça Filho (PFL), governador candidato à reeleição, xingaram um ao outro de incompetente.

A partir do tema sorteado, que foi saúde, Humberto perguntou a Mendonça o motivo para seu governo não aplicar todos os recursos exigidos por lei. Em sua resposta, o governador acusou o candidato do PT de ter sido demitido do cargo de ministro da Saúde durante o governo Lula por incompetência. Em sua réplica, Humberto afirmou que, enquanto esteve no ministério, viu que não faltava dinheiro ao Estado. "Portanto, incompetente é quem enganou a população."

A troca de tiros entre o pefelista e o petista tem beneficiado o candidato do PSB, Eduardo Campos, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, conforme a última pesquisa Ibope. Desde o início de agosto, Eduardo avançou 12 pontos percentuais nas pesquisas, conquistando principalmente os votos dos indecisos. Está com 26% das intenções de voto. Mendonça oscilou de 32% para 35%. Humberto subiu de 24 % para 26%.

Mesmo com o empate com Humberto, Eduardo não atacou o concorrente no início do debate. Ambos têm um acordo de apoio a quem for ao segundo turno.

No Rio Grande do Sul, o encontro começou com um embate entre Yeda Crusius (PSDB) e Olívio Dutra (PT), que segundo as últimas pesquisas de intenção de voto disputam uma vaga no segundo turno contra o governador Germano Rigotto (PMDB), que busca a reeleição. À primeira indagação da candidata tucana, sobre os planos para o setor de infra-estrutura, o petista pegou carona nos investimentos feitos pelo governo Lula no Estado e aproveitou para fazer críticas ao governo FHC.

"O governo federal está investindo no biodiesel, na biomassa e nos estudos do potencial de geração eólica e solar", disse Olívio.

Como resposta, Yeda afirmou que faria investimentos em infra-estrutura a partir do enfrentamento da crise fiscal que atinge o governo estadual. "O déficit aumenta ano a ano", afirmou a candidata.

Rigotto, que lidera as pesquisas, defendeu a política de incentivos fiscais do governo, que garantiu a atração de investimentos de empresas como Stora Enso, Votorantim, Embaré, Aracruz, Nestlé e Toyota.

O debate entre os candidatos ao governo baiano abriu com enfrentamento direto entre Jaques Wagner (PT) e Paulo Souto (PFL), que tenta a reeleição. Já na primeira pergunta, Wagner afirmou que os gastos do governo pefelista com habitação no ano passado foram inferiores às despesas com publicidade.

Souto fez questão de salientar as parcerias com o governo federal pelo menos três vezes em sua primeira participação no debate. Na Bahia, o presidente Lula tem, proporcionalmente, um dos melhores desempenhos nas pesquisas entre todos os Estados do país. Wagner, ex-ministro do governo Lula, usou a proximidade que tem do presidente como uma das principais ferramentas de persuasão do eleitor ao longo de toda a campanha. (Cristiane Agostine, Janaina Vilela, Carolina Mandl, Sérgio Bueno e Patrick Cruz)