Título: "Quem vive com aloprado, aloprado é", diz Bornhausen
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Política, p. A11

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), cobrou ontem da Polícia Federal e do governo Luiz Inácio Lula da Silva pressa na revelação da origem do dinheiro (notas de reais e dólares que somaram R$ 1,7 milhão) apreendido com petistas, que supostamente seria usado para comprar um dossiê contra o candidato a governador de São Paulo pelo PSDB, o ex-prefeito José Serra, contendo também fotos do candidato tucano a presidente, Geraldo Alckmin.

"Doze dias se passaram e não vimos a foto do dinheiro: foi escondida pela Polícia Federal. Não vimos os vídeos do hotel onde estavam hospedados os meliantes, escondidos pela Polícia Federal. Foram doze dias sem uma resposta", disse o senador, que acusou Lula de "mentir" e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), de protelar as investigações. "Com sua ação de protelação, com seu engodo, com sua fluência, ele vai arrastando as investigações e impedindo a sociedade de saber de onde veio o dinheiro", disse.

Para o presidente do PFL, ninguém é mais bem informado que o presidente da República, por receber, diariamente, relatórios da Polícia Federal, da Abin, dos serviços secretos das Forças Armadas. "Trata-se de mentira deslavada do presidente, que, aliás, tem esse costume. É um 'lulóquio'", afirmou.

A oposição explora o episódio na tentativa de evitar que a eleição presidencial seja decidida no primeiro turno, com a reeleição de Lula, como apontam as pesquisas. Jorge Bornhausen manifestou certeza no segundo turno e chamou de "desconectada" a pesquisa CNT/Sensus, divulgada ontem, mostrando o presidente Lula com 51,1% das intenções de voto e Alckmin, com 27,5%.

Em defesa do governo, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), justificou a demora na investigação da origem do dinheiro pela complexidade da operação de saques, que envolveu "centenas de movimentações". Ela negou que esteja havendo manipulação política da investigação, por causa da proximidade das eleições.

Da tribuna, Bornhausen chamou o episódio de "golpe sujo elaborado no comando de campanha do PT para tentar derrubar as candidaturas Alckmin e Serra" e lembrou a proximidade de Lula com os envolvidos, como Freud Godoy, ex-assessor da Presidência da República, e Jorge Lorenzetti, "churrasqueiro preferido do presidente", diretor administrativo do Banco do Estado de Santa Catarina.

"O presidente da República, com sua costumeira ação de mentir, disse que ele não pertencia aos quadros de seu governo. Pertence, sim, senhor presidente! Não minta de novo! Tirou licença do Banco do Estado de Santa Catarina para comandar o departamento sujo do PT em Brasília. Essa licença estende-se até 31 de outubro", afirmou.

Bornhausen desafiou Lula a participar do debate de amanhã na TV Globo, entre os presidenciáveis, para falar dos casos "valerioduto" e "mensalão" e dizer que nunca ouviu falar dos envolvidos no episódio do dossiê, que ele chamou de "aloprados". "Quem convive com aloprado aloprado é!", afirmou o pefelista.