Título: Deputados escapam de investigações
Autor: Martins , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2012, Política, p. A8

No mesmo dia em que o Senado cassou o mandato de Demóstenes Torres (sem partido-GO), a Câmara dos Deputados analisou quatro casos e decidiu abrir apenas um processo por quebra de decoro, contra o parlamentar do PSDB goiano Carlos Alberto Leréia. Outros três deputados ficaram livres de processo de investigação por denúncia de envolvimento com o grupo de Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

A maioria governista do Conselho de Ética derrubou o relatório que pedia a investigação do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), elaborado pelo deputado Amauri Teixeira (PT-BA), que sugeria a continuidade da apuração sobre as denúncias contra Protógenes. O relatório apontava a existência de "indícios" que justificavam uma apuração mais aprofundada pelo colegiado sobre a relação de Protógenes com o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, acusado de integrar a organização chefiada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A publicação apontou que o deputado, que é ex-delegado da Polícia Federal, teria instruído Dadá em sua defesa quando o ex-militar era investigado pela própria Polícia Federal.

Já na Comissão de Sindicância, os deputados votaram por unanimidade pelo arquivamento dos processos contra os deputados goianos Rubens Otoni (PT) e Sandes Júnior (PP).

O presidente da comissão, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), disse que o colegiado não encaminhou os processos contra Sandes Júnior e Otoni ao Conselho de Ética porque "não havia provas suficientes". Quanto a Leréia, viu indícios em "propriedades de avião e outras questões", declarou.

O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) pediu a cassação de Leréia em seu parecer por ter verificado que a relação do tucano com Cachoeira "vai além" do campo pessoal. "Eu não tenho dúvida [de que ele feriu o decoro parlamentar], por isso encaminhei o processo para a Comissão de Ética", disse.

Pesam contra Leréia as acusações de ter recebido dinheiro de Cachoeira e ser sócio do empresário em um terreno. Sandes Júnior aparece em gravações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal em que faria pedidos a Cachoeira e também teria recebido dinheiro do empresário, preso pela Polícia Federal sob a acusação de comandar uma rede ilegal de jogos de azar. Otoni foi flagrado em um vídeo supostamente negociando com Cachoeira doação para sua campanha eleitoral.

Os deputados previamente perdoados comemoraram a não abertura de processo. Sandes Júnior informou que as conversas que teve com Cachoeira foram retiradas do contexto e que não recebeu dinheiro de Cachoeira. "Eu já esperava por isso porque tinha a consciência tranquila. Não tinha negócios com ele", disse o deputado sobre o arquivamento do processo na Comissão de Sindicância.

Procuradas pelo Valor, as assessorias dos deputados Rubens Otoni e Carlos Alberto Leréia não retornaram até o fechamento desta edição.