Título: Apesar das quedas do juro, a economia ainda patina
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2012, Opinião, p. A12

Novamente o Comitê de Política Monetária (Copom) não surpreendeu. O cenário para o novo corte da taxa básica de juros, anunciado ontem, estava montado há semanas e foi ganhando contornos mais nítidos a cada dia, à medida que piorava o desempenho da indústria e do comércio, a crise internacional se aprofundava e a inflação perdia o ímpeto.

A principal causa para a redução do juro para um novo patamar recorde de baixa é a desaceleração da economia doméstica. Desde que foi divulgado que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu meros 0,2% no primeiro trimestre em comparação com trimestre anterior e 0,8% sobre igual período de 2011, ficou claro que o Brasil não cresceria os 4,5% imaginados pelo governo no início do ano. O Banco Central, mais realista, já reduziu a estimativa de crescimento para 2,5%. Nos últimos dias, surgiram sinais de que o governo vai finalmente admitir que o PIB deste ano não será melhor do que os 2,7% de 2011. O mercado financeiro, no entanto, trabalha com uma taxa ainda menor, inferior a 2%.

A realidade é que a economia vem reagindo pouco, apesar da redução do juro. Tampouco respondeu ainda à expansão e redução do custo do crédito, às desonerações da folha de pagamento de vários setores da economia e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de segmentos como automóveis e eletrodomésticos da linha branca.

Medidas desse tipo têm produzido até agora reações localizadas, insuficientes para mudar o quadro geral. A mais recente comprovação disso foi o resultado das vendas no varejo de maio, ontem divulgado. O varejo tem normalmente em maio um bom desempenho por causa do Dia das Mães, considerada a segunda melhor data para o comércio depois do Natal. Desta vez foi diferente. As vendas no varejo encolheram 0,8% em maio em comparação com abril, quando o mercado esperava aumento nada extraordinário de 0,5%. No varejo ampliado, as vendas também diminuíram em relação a abril (0,7%). O aumento de 1,5% das vendas de automóveis, beneficiadas pela redução do IPI, não conseguiu compensar a queda de 11,3% registrada nos materiais de construção.

Números ruins também haviam sido apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao medir a produção industrial de maio e constatar uma queda de 0,9% sobre abril e de 4,3% sobre maio de 2011. Chamou a atenção a queda de 1,8% da produção de bens de capital entre maio e abril; e de 2,8% dos bens duráveis, que inclui os beneficiados pelas desonerações tributárias.

O cenário internacional não tem ajudado. Pelo contrário, o agravamento da crise europeia, a desaceleração na China e a frágil recuperação dos Estados Unidos estão afetando a economia doméstica pelos canais do comércio exterior e do crédito. O Fundo Monetário Internacional (FMI) sancionou as perspectivas mais sombrias nesta semana ao anunciar que irá revisar para baixo a previsão de crescimento global, de 3,5% neste ano.

Até agora, o mercado de trabalho não foi afetado por esse quadro. De modo que o emprego elevado e a massa salarial contribuem para manter alguma demanda e para reduzir a preocupação com o elevado nível de endividamento das famílias e a inadimplência no crédito. No entanto, em maio, pelo terceiro mês consecutivo, o IBGE apurou uma redução das pessoas ocupadas na indústria. O Valor apurou que a indústria de transformação mais demitiu do que contratou em alguns polos industriais neste ano. Acompanhando o enfraquecimento da produção, o emprego industrial vem recuando desde o fim de 2011, mas continua firme em outros setores, especialmente em serviços. O comportamento do mercado de trabalho é certamente alvo de acompanhamento intenso para se medir a temperatura da economia e o tamanho da encrenca em que o país está.

Espera-se que a economia melhore a partir do segundo semestre, reagindo mais aos estímulos internos dados. Alguns indicadores antecedentes, como fluxo de veículos nas estradas, sinalizam melhoria já em junho. Mas não se pode contar com alguma perspectiva de mudança significativa no cenário internacional.

Felizmente, a inflação está moderada. A variação de 0,08% do IPCA em junho foi a menor desde agosto de 2010, acumulando 4,92% em 12 meses e com tendência de convergir para o centro da meta de 4,5% até o fim do ano. Dessa forma, a inflação abre espaço para a redução da taxa básica, que não deve parar na decisão de ontem, embora apenas a queda do juro não seja suficiente para reativar a economia.