Título: GE decide produzir turbinas de avião no país
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Empresas, p. B1

A gigante americana General Electric (GE) resolveu pisar fundo no acelerador no país. Com previsão de faturamento de US$ 2,4 bilhões no Brasil neste ano, a multinacional vai começar a produzir no país 50% do corpo das turbinas de aviões de grande porte até o fim do ano. Além disso, estuda iniciar também a fabricação no país de equipamentos médicos simples, como máquinas de raio-X.

As turbinas, segundo o presidente da GE no Brasil, Alexandre Silva, começarão a ser produzidas até o fim de 2006 na fábrica da Celma, companhia na qual a empresa americana passou a deter 100% do controle em 1996. "Vamos vender 100 turbinas por ano", afirma Silva.

Localizada em Petrópolis (RJ), a unidade da Celma não recebeu investimento algum para abrigar o novo negócio. Isso, porque a empresa, que fatura anualmente US$ 600 milhões, já possui o ferramental apropriado e mão-de-obra capacitada. Atualmente, a operação fluminense é responsável pela revisão das turbinas de aeronaves Boeing e Airbus que circulam pelo Brasil.

Outro negócio que está perto de sair do papel é a fabricação de equipamentos médicos, área na qual a GE não tem produção no país. Contudo, esse projeto ainda está em análise e não há definição sobre local de produção.

A idéia, explica o presidente da GE no Brasil, é fabricar máquinas, cuja tecnologia empregada abrigue o que há de mais simples neste setor. Sendo assim, está descartada a fabricação de maquinário de tomografia, por exemplo. O projeto busca produzir equipamentos mais simples, como raio-X.

A decisão de colocar uma série de projetos em prática é tomada no mesmo momento em que a GE tem registrado forte crescimento da sua receita no Brasil. Somente no primeiro semestre, o faturamento da multinacional aumentou 24%. "Deveremos fechar o ano em US$ 2,4 bilhões, o que significa um acréscimo de 27% sobre o desempenho de 2005", explica o executivo. Esse avanço ocorre a partir de uma base forte, já que no ano passado o crescimento foi de 40% e, em 2004, de 20%.

O fato é que a operação brasileira tem crescido exponencialmente ano após ano. Tanto que hoje já representa 1,5% do faturamento mundial do grupo , que foi de cerca de US$ 150 bilhões no ano passado.

Mas mesmo ampliando os negócios a cada 12 meses, o presidente da GE conta que haveria espaço para muito mais. Isso, porque a companhia atua em muitos segmentos que compõem a infra-estrutura de qualquer economia do mundo, como energia. E para que o país possa crescer fortemente é preciso investir necessariamente em infra-estrutura. "Se o Produto Interno Bruto do Brasil registrasse um crescimento de 6%, a GE aumentaria seu faturamento em 20%", afirma Silva.

Muito embora a receita anual já seja relevante, os US$ 2,4 bilhões são conseguidos somente com negócios gerados no mercado local. Caso se adicionassem os US$ 700 milhões obtidos com a exportação de produtos a partir da operação brasileira, o faturamento no Brasil subiria para US$ 3,1 bilhões.

No entanto, Silva explica que a padronização contábil da companhia determina que o faturamento da subsidiária somente inclua as vendas feitas no mercado local. As exportações, portanto, são obrigadas a compor o desempenho de cada área de negócio na matriz.

No caso brasileiro, talvez não seja o ideal. Mesmo porque as exportações a partir do país tem aumentado nos últimos anos. Nem mesmo a redução do dólar, que acumula uma queda de 6,1% entre 29 de dezembro de 2005 e 26 de setembro deste ano, diminuiu o fôlego do grupo. "A queda do dólar não tira nossa competitividade, porque não concorremos com as subsidiárias da GE de países como China e Índia para produzirmos determinados equipamentos. A nossa disputa é sempre com os Estados Unidos ou com algum país da Europa", diz Silva.