Título: MRV negocia entrada de fundo e quer abrir capital
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Empresas, p. B9

A construtora MRV está com tudo pronto para abrir o capital em 2007. Sem alarde, a empresa mineira acaba de passar por uma completa reestruturação, comandada pelo Banco Pactual, que separou em negócios independentes atividades que mantinha em setores como o financeiro e o agropecuário.

A empresa, que pretende entrar no mercado de ações no próximo ano, é uma companhia totalmente focada em imóveis residenciais para classe média, de olho nos brasileiros com faixa de renda entre R$ 1,2 mil e R$ 6 mil. Fundador e maior acionista da empresa com 82% das ações, Rubens Menin diz que abrir o capital é a melhor estratégia para financiar os planos de expansão da construtora, que já atua em 29 cidades de seis Estados, além do Distrito Federal.

"Agora é a melhor hora para ir ao mercado", aposta o presidente da construtora, que existe há 27 anos. "Não tenho nenhum apego ao controle acionário, não tenho como objetivo manter a MRV como uma empresa familiar", completa, destacando que o objetivo é fazer a empresas crescer.

Neste ano, a meta é atingir um valor geral de vendas (VGV) de R$ 600 milhões. VGV é receita potencial de uma construtora somando todos os empreendimentos de um ano. Para 2007, Menin projeta atingir R$ 1 bilhão, o que representará um crescimento de quase 70%. Com a injeção de recursos do mercado, ele acredita que será possível, num médio prazo, quintuplicar o tamanho da empresa.

O primeiro passo para a abertura de capital será a entra de um novo sócio, provavelmente um fundo de investimentos, ainda neste semestre. Capitalizada após a associação, a MRV iria à bolsa dentro de poucos meses. Menin informou que já está em negociação com interessados na sociedade, seriam mais de 20 candidatos entre fundos de investimento e empresas.

Nesta etapa, é possível que seja vendida uma fatia de 10% a 20% das ações. Mas o presidente não descarta a possibilidade de não chegar a um acordo com nenhum dos interessados. "De todo jeito, vamos abrir o capital. Vamos sozinhos se a associação acabar não acontecendo", avisa. O último trimestre deste ano, explica ele, será decisivo na história da MRV.

Além de "limpar" a estrutura da MRV Engenharia, separando os negócios alheios à construção civil, a empresa mineira investiu num banco de terrenos que é considerado um ativo estratégico. Comprou com recursos próprios mais de R$ 150 milhões em lotes nas 29 cidades onde atua. A área total deste banco de terrenos, uma reserva para os lançamentos futuros, soma 1,6 milhão de metros quadrados.

A construtora começou sua trajetória em Minas Gerais com projetos para a classe média baixa, prédios simples, sem elevador ou guarita de segurança. Em quase três décadas de operação, a empresa passou a oferecer produtos mais sofisticados para atender também as faixas mais altas da classe média.

Hoje, o tíquete médio da MRV é de R$ 100 mil. A construtora tem três linhas de produtos: Village, Spazio e Park. A primeira é uma linha de casas em condomínios horizontais. Os imóveis da Spazio são apartamentos em prédios mais altos, com elevador, coberturas duplex e guaritas de segurança. Os da linha Park, define Menin, são os "menos chiques".

Segundo o presidente, a padronização dos produtos é um diferencial que facilita as vendas. "A pessoa sabe exatamente o que é um apartamento MRV." Para quem quiser valorizar o apartamento, a empresa oferece, à parte, um kit acabamento com opções como granito nas partes frias em vez da cerâmica convencional.

"É isso que vamos continuar a fazer, o que sabemos fazer e onde enxergamos um bom potencial de mercado", afirma Menin. Segundo ele, não está nos planos futuros entrar em outros nichos de mercado, como o de imóveis de luxo. "Faço onde tem boa liquidez, não quero reinventar a roda." A rentabilidade dos lançamentos da MRV, de acordo com o presidente, é de 25%.

Em cidades como Belo Horizonte, onde está a sede da construtora, há pouco espaço para expansão dos negócios. "Já somos líderes", resume Menin. É nas cidades onde chegou mais recentemente - como Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo - que estão hoje as maiores apostas da empresa mineira. Com dinheiro dos investidores na Bolsa é que a MRV pretende atingir uma participação expressiva no mercado imobiliário destas praças.

A MRV tem hoje 1064 funcionários. Oitenta e cinco deles são sócios de Rubens Menin, com 18% do capital da empresa. As ações foram distribuídas a diretores e gerentes como forma de participação nos lucros e resultados. Boas práticas gerenciais - destaca o fundador - fizeram parte da história da sua construtora desde o princípio. Da mesma forma, sempre existiu na empresa a convicção de que, para crescer, seria preciso abrir o capital. "Era uma questão de tempo."