Título: Oferta da Klabin Segall testa apetite do mercado pelo setor
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Empresas, p. B9

Quando as ações da Klabin Segall começarem a ser negociadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo, no dia 9 de outubro, se inicia também um período de testes para o setor imobiliário brasileiro. Analistas, investidores e as concorrentes da Klabin Segall vão acompanhar com especial atenção o desempenho da primeira companhia de uma nova leva de empresas do setor da construção civil que se aventura no até pouco tempo inexplorado mercado acionário. A grande dúvida que paira no ar é saber se a demanda de capital está tão aquecida para o número de companhias desse segmento que pretende ingressar na Bolsa.

Na cola da Klabin Segall estão a Brascan Imobiliária, a Tecnisa e a São Carlos Empreendimentos, que já pediram autorização à CVM para fazer suas ofertas públicas. A corretora de imóveis Lopes também se prepara para ingressar na Bolsa, assim como a mineira MRV. A Camargo Corrêa Imobiliária, afirma o mercado, segue o mesmo caminho. Todas estão em busca do sucesso alcançado por Gafisa, Cyrela, Company, Rossi e Abyara que, em maior ou menor escala, conseguiram fazer uma abertura de capital de sucesso nos últimos 12 meses. No total, essas cinco empresas conseguiram captar algo próximo a R$ 4 bilhões junto ao mercado acionário.

Para a maior parte dos analistas que acompanham o segmento imobiliário, ainda há espaço para novas entradas, principalmente por questões conjunturais que indicam um forte crescimento do setor para os próximos anos. Mas a opinião corrente nas mesas de operação é de que nem todas essas empresas conseguirão obter o sucesso que esperam com suas operações. "Não existe um clima de fim de festa, mas logo muita gente vai perceber que entrou nessa festa pela porta da cozinha e não pelo salão principal", diz Mário Fleck, diretor da Rio Bravo Investimentos.

Sem o mesmo apetite por ações brasileiras de alguns meses atrás, os investidores externos - quem realmente injetou dinheiro nessas empresas - estão cada vez mais seletivos no momento de fazer novas aplicações. E isso, acreditam os analistas, vai se refletir nas novas captações. "A curto ou médio prazo já começaremos a ver uma migração do fluxo de capital", afirma Eduardo Roche, do Banco Modal. Ou seja, uma redução de dinheiro novo e uma movimentação maior de quem já tem papéis do setor.

Para Rodrigo Lowndes, presidente do Morgan Stanley no Brasil, essa seletividade maior fará com que as companhias se adequem ao que ele chama de uma "realidade" do mercado acionário. "No último ano 100% das ofertas obtiveram sucesso", diz ele. "Mas na média vemos que 30% das empresas que entram na Bolsa não se dão tão bem, e isso é normal". Para Lowndes, como para seus colegas, os projetos terão que estar muito bem estruturados e as empresas terão que apresentar diferenciais para conseguir seduzir os investidores. "O mais do mesmo não conseguirá ter tanta penetração, até porque não temos tantas empresas como uma Cyrela", afirma um outro analista.

Por isso o início da oferta pública da Klabin Segall vem despertando tanta atenção. A empresa segue, basicamente, a mesma linha de suas concorrentes que já obtiveram sucesso na entrada no mercado acionário. Tem uma atuação focada em empreendimentos residenciais de médio e alto padrão na cidade de São Paulo e seus planos de expansão seguem, também, a mesma linha das concorrentes.

Para conseguir ver sua receita crescer de forma rápida, a Klabin Segall vai adotar a estratégia de expansão regional, como estão fazendo hoje Gafisa, Cyrela e Rossi, as três maiores do setor. A empresa pretende se associar a pequenas construtoras regionais para conquistar espaço fora do concorrido mercado de São Paulo, que representa hoje algo como 40% do setor no Brasil.

Apesar de gozar de uma boa reputação e ter um gerenciamento considerado eficiente, a Klabin Segall tem um ponto desfavorável importante: não faz parte do grupo das maiores do setor. Seu faturamento em 2005 não chegou a R$ 100 milhões e o Valor Geral de Vendas - índice que registra a receita potencial da empresa - no ano passado foi de R$ 131 milhões, valores bem abaixo de suas concorrentes.

Para quem acompanha de perto o movimento dos investidores, tamanho e perspectiva de crescimento serão pontos fundamentais para atrair os novos compradores. "Há, sem dúvida, interesse em companhias de construção imobiliária, mas empresas com um VGV menor de que R$ 800 milhões não terão uma atratividade tão grande", afirma um analista que, nesse momento, faz um "road-show" de uma empresa do setor para investidores estrangeiros.

Mesmo beneficiada por um momento conjuntural favorável e com boas perspectivas de sucesso, a oferta pública da Klabin Segall já será um indicativo se essas análises estão de fato corretas.