Título: UE cobra rigor do Paraguai na área de carnes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Agronegócios, p. B13

A União Européia (UE) acaba de fazer recomendações para o Paraguai melhorar o controle sanitário no setor de carnes em três pontos: sorologia, rastreabilidade e controle de qualidade novos estabelecimentos. A interpretação de analistas é de que, na prática, a UE suspeita de contrabando de animais entre o Paraguai e a Argentina e Paraguai e Brasil. E se indagam como isso poderia ter efeito nas investigações que a UE continua a fazer em relação a carne brasileira.

Conforme as fontes, a missão européia, que iniciou inspeção na última segunda-feira em São Paulo, foi orientada a dar atenção especial ao monitoramento sorológico de bovinos e ao tema da rastreabilidade. Alguns Estados-membros visam todo o sistema de controle brasileiro, e não apenas as regiões afetadas pela febre aftosa.

Representantes desses países teriam ficado irritados com reação do Brasil, que considerou uma "vitória diplomática" o fato de a Comissão Européia ter recomendado manter o embargo contra a carne procedente de Mato Grosso, São Paulo e Paraná, e não ter estendido a proibição. Se foi uma vitória, então a pressão deveria aumentar, na visão de alguns europeus.

O adido agrícola do Paraguai em Bruxelas, o ex-ministro da Agricultura Dario Baumgartner, recusou comentar o relatório preliminar recebido de Bruxelas. Alegou que é preliminar, confidencial e que o governo paraguaio tem prazo de um mês para argumentar contra qualquer conclusão. Foi o próprio Paraguai que pediu a inspeção da UE, em julho, para ser habilitado como país exportador de carne bovina aos 25 países-membros comunitários.

Em seminário ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC), o representante da União dos Comerciantes de Carnes da UE, Arne Mielken, declarou que as exigências sanitárias, de bem-estar animal e outras considerações não-comerciais continuarão estritas para o Mercosul, ainda mais que o bloco já responde por quase 90% das importações de carne bovina feitas pela UE.

"A nossa dependência é muito grande em relação ao Brasil e à Argentina, principalmente, e queremos ter o máximo de garantias", afirmou. Mielken apresentou um quadro dramático da indústria européia de carnes, como conseqüência de uma provável liberalização global do comércio.

A entidade calcula que a já modesta produção européia de carne bovina cairia 10% em 2014, e que o preço da tonelada na Europa cairia 14%. Aproximadamente 600 mil pessoas trabalhando nas áreas de carnes bovina, suína e frango perderiam o emprego.

Mesmo participantes europeus envolvidos com o setor de carnes ressalvaram que as cifras pareciam altamente infladas. Mas Arno Mielken insistiu que os europeus em todos os casos "com negociação na OMC ou acordo Mercosul-UE" vão depender cada vez mais da carne bovina do Brasil e da Argentina.