Título: Temer convida Kátia Abreu, dissidente do PSD, a se transferir para o PMDB
Autor: Exman , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2012, Política, p. A8

Em meio à crise interna do PSD, o vice-presidente da República, Michel Temer, convidou a senadora Kátia Abreu (TO), vice-presidente do PSD, para migrar para o PMDB. A proposta foi feita pessoalmente por Temer há três dias, quando a senadora divulgou uma carta-protesto contra o presidente e fundador de seu partido, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

"Kátia é minha velha amiga e há poucos dias disse a ela: se você tivesse vindo para o PMDB - Kassab inclusive-, talvez não houvesse tudo isso. Eu disse que as portas estão abertas", contou Temer, ao participar ontem à tarde de um evento do diretório paulista do PMDB, na capital de São Paulo. Antes de Kassab fundar o PSD, o vice-presidente da República tentou filiar o prefeito e o grupo que articulava a nova sigla.

Segundo o relato de Temer, Kátia disse que "vai verificar" a possibilidade de migrar de partido. "As conversas vão acontecer naturalmente", afirmou.

A senadora do PSD tem reclamado da falta de democracia interna em sua legenda. O estopim da crise, que levou à divulgação da carta, foi a intervenção do PSD nacional no diretório de Belo Horizonte, para apoiar a candidatura de Patrus Ananias, do PT. No documento, a vice-presidente da sigla reclamou da "forma arbitrária e clandestina" da intervenção no diretório e declarou "dissidência crítica e vigilante" em relação a Kassab.

Segundo integrantes do PSD, a senadora almeja ser indicada para um ministério do governo Dilma Rousseff, em uma reforma ministerial a ser feita em breve. Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia estaria interessada no comando do Ministério da Agricultura, sob direção do PMDB.

A senadora nega que as críticas a Kassab tenham como pano de fundo espaço no governo.

"Quem tem que estar preocupado onde vai sentar é ele [Kassab], cujo mandato está terminando. Eu tenho três cadeiras: a da CNA, a do Senado e ainda a da federação de agricultura lá do meu Estado", disse Kátia Abreu, em entrevista ao Valor.

A senadora do Tocantins afirmou ter ficado honrada com o convite de Temer para se transferir para o PMDB e comparou o estilo do vice-presidente da República com o do prefeito de São Paulo. "Assim que saí da reunião com ele, cinco pessoas importantes do PMDB me ligaram para reforçar o convite. Ou seja, ele [Temer] divide os assuntos com o partido", afirmou.

Já Kassab, reclama a parlamentar, nunca convocou uma reunião da executiva nacional do PSD, em mais de um ano, e não compartilha as informações com os colegas.

"A gente fica até com vergonha. Ele vem a Brasília se encontrar com a [presidente] Dilma, vai embora para São Paulo e não conta os detalhes da conversa. Se um jornalista me pergunta o que aconteceu, fico com cara de paisagem, de Monalisa, porque não sei. A decisão sobre o fundo partidário e o tempo de TV ocorreu há duas semanas. Se fosse o [ex-senador Jorge] Bornhausen que dirigisse o partido, já teria convocado uma reunião da executiva", disse.

Kátia Abreu afirmou que quer a convocação da executiva e o respeito ao estatuto do partido. Segundo ela, a intervenção em Belo Horizonte só poderia ter sido tomada por decisão da maioria da executiva nacional, e não apenas por Kassab.

A senadora contou que é "muito cedo" cogitar uma transferência para o PMDB, já que a migração envolveria também todo o seu grupo político. Kátia Abreu diz que suas críticas já produziram efeitos no PSD. "A reunião de confraternização pelo fim do semestre reuniu ontem em Brasília só 15 dos 50 deputados. Foi um clima de velório", afirmou.