Título: Novas fatias do velho bolo da Esplanada
Autor: Pariz, Tiago; Iunes, Ivan; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2010, Política, p. 3

Transição Trabalho maior para organizar a mudança entre os governos de Lula e da presidente eleita Dilma Rousseff será administrar interesses de PMDB e PSB, principais aliados

A tarefa de conduzir a troca de guarda do governo Lula para o da sucessora Dilma Rousseff no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios será repartida entre o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, pelo deputado Antônio Palocci (PT-SP) e pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra. Eles coordenarão as equipes que farão radiografias dos cargos da administração pública para atender às demandas da nova composição política surgida das urnas no domingo e conciliar interesses de aliados, como o PMDB e o PSB.

O presidente Lula deverá assinar um novo decreto, em complemento ao ato assinado em 29 de junho, para operacionalizar a transição, indicando os nomes do governo que serão responsáveis por passar a batuta para a equipe de Dilma. Lula indicará dois ministros, entre eles Bernardo. Pelo decreto original, a coordenação da transição é feita pela chefia da Casa Civil, hoje ocupada interinamente por Carlos Esteves Lima. Pelo lado da campanha, Palocci coordenará a equipe e dividirá tarefas com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que será responsável pela negociação dos cargos com os 10 partidos que fizeram parte da coligação do governo. A equipe da campanha será formada ainda por Fernando Pimentel (PT-MG), pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), por Clara Ant e Gilles Azevedo.

Diferentemente da mudança de governo em 2002, quando houve de fato uma transição, esses próximos dois meses serão mais para fazer uma nova configuração do bolo com os aliados. Dutra começa a fazer as costuras na próxima semana. Ele se reúne com a cúpula do PMDB para discutir a formação. Nesta quinta, haverá uma reunião do PSB. O presidente do PT conversou ontem com o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), também projetando o futuro governo.

Pimentel e Cardozo farão a ponte com a militância e os movimentos sociais. Ant continuará responsável por fazer triagem de informações e Gilles manterá o trabalho de construção da agenda da presidente eleita. A primeira reunião de transição deve ocorrer no início da próxima semana. Os assessores de Dilma querem que ela participe do encontro e encontre o presidente Lula em Moçambique antes de ir à Coreia do Sul participar da reunião do G20.

Entre os atuais ministros, a maioria deve ser substituída a partir de janeiro. Em especial, os que eram secretários executivos e assumiram os cargos quando os titulares foram exonerados para participarem das eleições, em março. A composição de forças entre os dois maiores partidos da base aliada, PT e PMDB, acertada por Dilma Rousseff e o vice Michel Temer, passará pelo Congresso. Enquanto o comando das duas Casas pertencer ao PMDB, a participação do partido no governo será menor. Se o PT assumir a Presidência da Câmara, aumenta a participação da legenda aliada na Esplanada.

Preço

Com as discussões ainda em fase incipiente, a aposta inicial de aliados é de que algumas pastas sociais, como a da Saúde e a da Educação, devem sofrer mudanças e o PSB certamente cobrará mais alto pelo valor do passe político, valorizado depois que a legenda elegeu seis governadores. O PT já avisou: se os socialistas ficarem com a Saúde, terão de abrir mão das pastas menores que comandam atualmente.

Outra provável baixa na Esplanada é a do ministro da Educação, Fernando Haddad. A fraude no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) reduziu a vida útil do professor de filosofia na pasta. Aliados de Dilma afirmam que o partido precisou se esforçar para manter o ministro até o fim do ano. Apesar de ser próximo da presidente eleita, o ministro das Cidades, Márcio Fortes, deve perder a pasta. O posto é disputado entre o PMDB, que tenta emplacar Moreira Franco, e o PSB, que poderia indicar o deputado federal Márcio França (SP). O petista Fernando Pimentel aparece também como concorrente à pasta.

A permanência de Guido Mantega à frente da Fazenda está condicionada ao papel de Antonio Palocci no governo da presidente eleita. A convivência dos dois no governo é considerada contraditória, pois têm ideias diferentes sobre a condução econômica. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no entanto, tem relação melhor com Palocci do que com o próprio Mantega. Para equilibrar a balança, o PT poderia ceder ao PMDB o Ministério da Previdência e o comando de bancos públicos.