Título: Lehman estuda a aquisição do Banco Fator
Autor: Carvalho,Maria Christina e Lucchesi, Cristiane P.
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2006, Finanças, p. C1

O banco de investimento americano Lehman Brothers estaria negociando a compra do Banco Fator, informou, ontem, a agência "IFR Markets". Fonte do Lehman confirmou ao Valor o interesse na aquisição de um banco no Brasil, mas não citou nomes. Segundo o "IFR", o americano estaria realizando "due diligence" no Fator para verificar se as duas instituições "são compatíveis em compliance e práticas culturais".

O presidente do Banco Fator, Manoel Horácio Francisco da Silva, negou qualquer negociação ou assédio de banco estrangeiro. "Talvez até isso venha a ocorrer no futuro porque vamos adicionar muito valor ao banco", disse. Segundo ele, está prestes a sair do forno a primeira operação de mercado de capitais que terá o Fator como líder.

As especulações surgem na sequência da operação de compra do Banco Pactual pelo UBS por US$ 2,6 bilhões e de rumores sobre a negociação para compra da Hedging Griffo pelo Credit Suisse por uma quantia estimada entre US$ 400 milhões. Há um interesse renovado dos bancos de investimento estrangeiros em operar no mercado de capitais doméstico brasileiro. E, para aumentar sua participação rapidamente, têm procurado aquisições locais.

A própria Lehman faz parte desse parte desse movimento e gostaria de voltar ao mercado brasileiro, depois de ter reduzido sua presença no início da década. Hoje, não tem nem sequer um escritório de representação no Brasil e opera com ativos do Brasil de Nova York. Em agosto, adquiriu R$ 900 milhões em créditos corporativos inadimplentes, vencidos há mais de dois anos, do Banco ABN AMRO Real.

O banco de investimentos americano chegou a criar empresa de propósito específico no país, já fechada, para comprar créditos da Parmalat e também tem adquirido crédito consignado de bancos médios brasileiros. Ainda no final do ano passado comprou integralmente um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 105 milhões lastreado em crédito consignado para pensionistas do INSS gerado pelo BMG em troca de 108% do Depósito Interfinanceiro pelo prazo de dois anos. O objetivo era vender as cotas do FIDC, estruturado pelo Banco ABC, com um deságio aos investidores internacionais.

Segundo fontes consultadas pelo Valor, o Banco Fator vale de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões e poderia ter o que o Lehman procura. O Fator é forte em pesquisa, corretagem e administração de recursos de terceiros. O banco se sobressaiu por sua participação ativa em várias privatizações, realizadas na década de 90, especialmente como assessor do governo na venda de vários bancos estaduais.

Fundado em 1967, o grupo Fator tem três braços de negócio: administração de recursos, corretora de valores e o banco, que realiza operações estruturadas, assessoria nas áreas de fusões e aquisições, financiamento de projetos e captação de recursos. A corretora ficou nos dois primeiros lugares em negociação na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos quatro anos. Reativou a área de mercado de capitais e já participou de operações relevantes como as emissões do Banco Nossa Caixa e da Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

Para enfrentar a concorrência dos estrangeiros, o Fator está preparando a abertura de uma corretora em Nova York, que deverá receber sinal verde em outubro, disse Manoel Horácio. O banqueiro não descartava até mesmo a atuação em parceria com bancos estrangeiros, que ganharam destaque em emissões de ações brasileiras ao conseguirem colocar fatias expressivas dos lançamentos no mercado externo. Outra providência do banco é o reforço do patrimônio, que deverá fechar o ano em R$ 180 milhões. No primeiro semestre, o banco obteve um lucro líquido de R$ 20,6 milhões. O retorno anualizado sobre o patrimônio líquido ficou em 51,3% em comparação com 47,5% no primeiro semestre de 2005.